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Frente Popular

Em Paris, decorreu o congresso do PCF, nos últimos dias da semana passada. O Partido Comunista francês confirmou e pretende ampliar o espaço do Front de Gauche.

Em Paris, decorreu o congresso do PCF, nos últimos dias da semana passada, num velho hangar fabril convenientemente adaptado ao ato. A estação de metro mais próxima, recém inaugurada, é a Front Populaire em homenagem à frente popular de 1936 cujo governo garantiu pela primeira vez férias pagas aos trabalhadores. Talvez por acidente, mas o indicativo do metro é a substância da assembleia. O Partido Comunista francês confirmou e pretende ampliar o espaço do Front de Gauche. Esta frente de esquerda junta, para além do PCF, Parti de Gauche de Jean-Luc Mélenchon, FASE - a federação de associações políticas a que pertence Clementine Auteil, Gauche Unitaire, PCOF, République & Socialisme, Convergences & Alternatives, Gauche Anticapitaliste, les Alternatifs. Todas as 9 organizações, incluindo naturalmente o anfitrião, estiveram presentes elogiando a unidade e a diversidade, a ação anticapitalista comum e a pluralidade ideológica do FG. Insistem na nacionalização da banca nacional, energia, siderurgia e unidades industriais estratégicas, acentuando uma política de crédito público e de reindustrialização. Batem-se pelos serviços públicos e pelos direitos sociais e pretendem a refundação democrática da união europeia, atacando no momento o tratado orçamental como contrário ao emprego e ao desenvolvimento.

O congresso foi tempo de falar do casamento entre pessoas do mesmo sexo à beira de ser instituído, falta a aprovação do senado tendo vencido na câmara dos deputados. A história é-nos familiar porque há travões à adoção de crianças nos casais homo. Foi também palco para falar da PMA para todas, do direito de voto aos emigrantes nas locais, da amnistia penal dos sindicalistas, das alterações ao código de trabalho que visam aumentar a precariedade e golpear a segurança no trabalho. Ouviu-se o embaixador da Palestina, as mulheres curdas. Valter Pomar do PT do Brasil e porta-voz do Fórum de São Paulo (que agrupa dezenas de partidos da América Latina) teve ocasião de dizer, talvez com risco, que o socialismo já não está na defensiva neste sub-continente. Pierre Laurent, presidente do PCF, reconduzido no cargo, e também presidente da Esquerda Europeia assinalou fortemente as greves gerais conjuntas na Europa como um marcador de futuro. O FG irá exigir de Hollande o cumprimento das promessas eleitorais das quais se afastou, a começar pela capitulação ao tratado orçamental de Merkel e do seu antecessor Sarkozy, a que na campanha presidencial se tinha oposto. Laurent sublinhou bem que o PCF recusou fazer parte de um governo com o PS pela sua orientação social liberal mas não abdica de fazer parte da maioria popular que derrotou Sarko e Le Pen. E a maioria popular não sanciona a intervenção no Mali, disse-se por ali em uníssono. Mas solidariza-se com a Frente Popular na Tunísia.

O partido fez alterações estatutárias, nomeadamente na simbologia, já tendo eliminado o chamado centralismo democrático há muito tempo. Retirou a foice e o martelo por ser uma imagem associada negativamente à ex-URSS, mantém o nome comunista e a bandeira vermelha. Adotam a estrela como logo. Pierre Laurent falou do comunismo de nova geração exultando com mais de 20 mil adesões no último ano. Um delegado dizia que disso, o comunismo de nova geração, tinha percebido que a luta de classes tinha voltado aos documentos do partido como uma velha amiga que afinal não tinha ido embora. Essa inspiração também serviu ao lema geral, de um poema de Apollinaire, "é o tempo ótimo para reacender as estrelas".

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, professor.
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