A Flotilha dos que não são cúmplices

porRoberto Almada

11 de setembro 2025 - 11:29
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Esta iniciativa é, ao mesmo tempo, gesto de solidariedade e denúncia política. Recorda que a comunidade internacional não pode assistir, de braços cruzados, à repetição de crimes contra a humanidade.

Partiu, na passada semana, do porto de Barcelona, a Global Sumud Flotilha, composta por duas dezenas de embarcações, rumo a Gaza. Para além de bens de primeira necessidade, leva também a solidariedade ativa de quem não aceita o silêncio perante a tragédia humanitária em curso. A bordo, seguem duzentas pessoas de 44 países: ativistas de direitos humanos, artistas, figuras públicas – como Greta Thunberg – e responsáveis políticos – entre os quais Ada Colau, ex-presidente da Câmara de Barcelona, e Mariana Mortágua, deputada da Assembleia da República, acompanhada por mais dois cidadãos portugueses.

O objetivo é claro: quebrar simbolicamente o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, um cerco que condena mais de dois milhões de pessoas – sobretudo crianças, mulheres e idosos – à fome, à falta de cuidados médicos e a viver sob bombardeamentos constantes. Num território reduzido a ruínas, onde a vida quotidiana se tornou sinónimo de sobrevivência, Gaza é hoje um retrato da desumanização.

Esta iniciativa é, ao mesmo tempo, gesto de solidariedade e denúncia política. Recorda que a comunidade internacional não pode assistir, de braços cruzados, à repetição de crimes contra a humanidade. Por isso, é inaceitável que o governo português não garanta proteção diplomática aos seus cidadãos, entre eles uma deputada democraticamente eleita, quando o Estado espanhol já assegurou essa salvaguarda aos participantes que representa. A diplomacia não pode ser cúmplice em abandonar os que, em nome dos direitos humanos, se expõem para dar visibilidade a uma causa justa.

Este domingo, terão partido também da Sicília mais 12 embarcações com cerca de duas centenas de ativistas – entre eles deputados e eurodeputados italianos. Da Tunísia, novas embarcações e participantes, entre os quais o neto de Nelson Mandela, reforçam a expedição. Trata-se de uma mobilização internacional rara, que une diferentes sensibilidades políticas e sociais em torno de um princípio essencial: o direito à vida e à liberdade do povo palestiniano.

A Global Sumud Flotilha recupera o verdadeiro sentido da palavra "solidariedade": não apenas compaixão, mas ação. É um apelo à consciência coletiva, lembrando que a omissão também mata. Gaza não precisa de silêncio cúmplice: precisa de vozes firmes, de gestos concretos – e da proteção diplomática de todos os Estados que se dizem democráticos. Esta é a Flotilha de todos nós, os que não somos cúmplices.

Artigo publicado em dnoticias.pt a 8 de setembro de 2025

Roberto Almada
Sobre o/a autor(a)

Roberto Almada

Técnico Superior de Educação Social. Ativista do Bloco de Esquerda.
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