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Eucaliptal à sombra do Estado
Na distopia neoliberal tudo faz sentido, porque as palavras não têm significado: o mercado é perfeito para a propaganda, mas o Estado faz o trabalho sujo de garantir renda à "iniciativa" "privada". Portugal é o país com maior área de eucalipto plantado do mundo, tendo o atual governo liberalizado a plantação de eucaliptos no território. Viva o mercado livre!
A Portucel foi fundada em 1976 após a nacionalização da pequena indústria da celulose. Em 1995 dá-se a primeira fase da sua privatização (em 1994 a Semapa já se tinha começado a posicionar para dominar uma série de monopólios, como a Secil) e em 2004 a Semapa consolida o seu controlo, adquirindo 67,1 % da Portucel. Nesses 30 anos, a área de eucaliptal plantado no país aumentou ininterruptamente. Em 2005 Pedro Queiroz Pereira ameaçou que levaria a fábrica de pasta de papel para o Brasil ou para a Alemanha, tendo sido demovido por José Sócrates. Na altura, Queiroz Pereira terá dito a Sócrates: "Se o sr. primeiro-ministro sentir coragem para dobrar as forças vivas, eu farei aqui a fábrica". No ano passado, em entrevista, o multimilionário dizia que "Sócrates não cumpriu os pontos todos, mas o que me motivou foi ver a grande vontade em que a fábrica ficasse cá e em resolver os obstáculos. Subsídios? Recebia em qualquer um dos lados!".
Foi apenas na semana passada que se soube que o presidente da Semapa (e da Portucel-Soporcel e da Secil), Pedro Queiroz Pereira, era o administrador do PSI-20 com a mais elevada remuneração oficial (1.770.000 euros por ano, excluindo obviamente dividendos e participações financeiras, auferindo portanto 260 salários mínimos por mês). Os restantes oito administradores da Portucel-Soporcel recebem em média 1.205.000 euros por ano. A Portucel-Soporcel teve em 2013 um volume de negócios de 1,53 mil milhões de euros e distribuiu 37,5 milhões de euros em dividendos aos seus acionistas.
Apesar dos chorudos lucros, continua a ser do favor do Estado que vive a iniciativa privada. Perante um país cujo espaço florestal é devastado pelo desordenamento paisagístico e territorial, com consequências catastróficas (além da desertificação física e humana, os incêndios e a regressão ambiental dos ecossistemas), a exigência de mais matéria-prima feita pela indústria da celulose nos últimos anos, associada à exigência de mais área para a expansão do eucaliptal à custa dos espaços agrícolas e dos baldios de gestão comunitária mereceu vários diplomas feitos à medida, como sejam o Regime Jurídico de Acções de Arborização e Rearborização em 2013 ou a nova Lei dos Baldios este ano.
Que desenvolvimento trazem actividades destas? Emprego? Para a área monumental ocupada por eucaliptal no país (oficialmente 812 mil hectares), a Portucel emprega 2259 "colaboradores", enquanto as outras empresas da celulose (organizadas na CELPA) empregam mais 856 pessoas. E este número vem em queda constante pelo menos desde 2003, pelo que não está a criar emprego, apesar da produção estar sempre a aumentar. E se o volume de vendas é monumental (1,2 mil milhões de euros em exportações), em que é que isso beneficia o país? Certo, entra para as contas da balança, mas estamos a exportar exactamente o quê? A madeira sai para deixar o território em escombros, enquanto aceleram os ciclos de mobilização de solos, gastos com água, rotação rápida, esgotamento e abandono (como um ou dois ciclos de incêndio pelo meio). Mas são sempre boas notícias se há investimento privado, dizem os guardadores do governo. Especialmente se for estrangeiro! E se estivermos em crise. Mas se nós damos mais dinheiro aos investidores do que aquele que os investidores nos dá a nós, não estamos a aumentar o buraco das contas públicas? E se pelo caminho destruirmos o país para agradar aos potenciais investidores, então o ciclo da distopia suicida fica fechado.
Artigo publicado no blogue Inflexão
Comentários
É tão triste esta
É tão triste esta esquerdalhada. Diga-me uma coisa Sr.Eng. Camargo, se não existirem empresas as pessoas trabalham para quem? Que alternativa sugere para além de escrever este conjunto de baboseiras sem sentido algum? O Grupo Portucel- Soporcel é dos mais bens geridos a nível nacional, sendo uns dos lideres industriais mundiais no seu sector, mas o Sr. prefere enveredar pela via demagógica e bacoca.
Só posso assumir que preferia que as fábricas fossem deslocadas para a Alemanha, até porque do ponto de vista estritamente de negócio, faria muito mais sentido, uma vez que é no centro da europa que estão os principais clientes da empresa.
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