João Camargo

João Camargo

Investigador em Alterações Climáticas. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990

Cadastro florestal do país? Não existe. Quanto do território está abandonado? Vá-se lá saber. O que está nesses territórios? É tentar adivinhar (se for território florestal a probabilidade de ser eucalipto é elevada).

Se olharmos para os últimos dois anos, o pós-pandemia revela um desdobramento acelerado da crise climática em sucessivas crises financeiras.

Com o agravamento da crise climática, as empresas de combustíveis fósseis deverão responder perante um tribunal internacional pelos seus avassaladores crimes contra o conjunto da Humanidade.

É à Galp e às restantes petrolíferas que se deve a crise social e do aumento do custo de vida em Portugal e por todo o mundo. As petrolíferas como a Galp estão a provocar, deliberadamente, o colapso da Humanidade.

A gigantesca mobilização de meios para garantir a destruição de uma aldeia e a expansão de uma das maiores minas de carvão a céu aberto do mundo - Garzweiler - no centro da Europa marca um novo momento histórico.

O que os governos europeus estão a fazer é, em vez de controlar o gás e promover alternativas ao mesmo, expandir a sua infraestrutura e reforçar a nossa dependência dele. Ao fazerem isto estão a reforçar a crise e a expandi-la ainda ao combaterem a inflação pelo aumento das taxas de juros.

Reduzir drasticamente a área de eucaliptal em Portugal não vai resolver por si só a questão dos incêndios e do avanço da desertificação, mas sem isto acontecer, não haverá qualquer estratégia viável de futuro que não seja aceitar o deserto.

Há graves problemas nos transportes da cidade. Nenhum deles é a existência de poucos carros. Há carros a mais na cidade de Lisboa. Nenhuma solução passa por menos ciclovias. Nenhuma.

A Caravana pela Justiça Climática marcha porque precisamos construir um movimento forte, amplo, diverso e enraizado o suficiente para que a vontade e os lucros desta minoria, assentes sobre a destruição do nosso futuro, seja um dia em breve apenas uma memória distante.

O futuro será escrito pelas pessoas que reconhecem a necessidade de agir e que, de facto, se organizam para agir. Em breve haverá apenas dois grandes grupos: os que organizam o desaparecimento da Humanidade e os que organizam o seu salvamento.