Está a fazer escola no PS a hashtag #SemDoNemPiedade?

porAndré Julião

16 de dezembro 2024 - 15:23
PARTILHAR

Não deixa de ser curiosa esta ambiguidade de um PS que vai sendo cada vez menos socialista e cada vez mas populista. Não será, por isso, surpreendente se esta corrente engrossar à medida que o prazo para as autárquicas for minguando.

Fosse o PS um partido de tendências e poderíamos provavelmente constatar estar perante uma onda “populista-socialista”. A última aderente desta corrente que parece ganhar adeptos no PS de norte a sul foi a presidente da Câmara Municipal de Alpiarça. A edil, bem ao jeito #semdonempiedade, instaurado pelo edil de Loures, Ricardo Leão, defende que os alunos com familiares que ostentem sinais de riqueza percam os apoios escolares.

Entre estes “sinais de riqueza”, a edil inclui carros de alta cilindrada e telemóveis topo de gama. Não foi ainda definida uma linha vermelha para estes dois segmentos, portanto não sabemos ao certo se é considerado telemóvel topo de gama um iPhone, um Samsung ou um Pixel. Nem a partir de que modelo.

Quanto às viaturas, o dilema é similar: serão considerados BMW, Audi ou Tesla? E de que ano? Com um ou dois donos? E quantos quilómetros?

Por sorte, Sofia Sanfona, a autarca em questão, não se lembrou de mandar ver que tipo de TVs estas famílias têm em casa: LCD, 4K, OLED? Na verdade, e para dissipar dúvidas, urge a esta nova corrente de “Política OLX” que emerge no PS que elabore um catálogo e o coloque online.

Não deixa de ser curiosa outra caraterística que esta nova tendência “populista-socialista” tem em comum: seja em Alpiarça ou em Loures, sejam carros, telemóveis ou dívidas de habitação municipal, quem paga são as crianças.

O pai tem um carro? Pronto, o filho não come este mês na escola. A mãe não paga a renda? Dívida para as Finanças cobrarem e filhos sem sopa nem fruta.

Não estivessem as eleições autárquicas a menos de um ano de distância e poder-se-ia pensar que se trata de uma estratégia orquestrada para ganhar votos, sobretudo no campo da extrema-direta, sobretudo em concelhos onde está “na moda”.

A verdade é que esta corrente criada por Ricardo Leão, curiosamente no mesmo concelho que Ventura usou como incubadora, parece ganhar cada vez mais adeptos dentro do PS. Apesar da demissão da FAUL, a “tendência Leão” ganhou defensores de peso. Um deles é Duarte Cordeiro, que não perdeu tempo a vir a terreiro defender o autarca de Loures face à carta que António Costa, José Leitão e Pedro Silva Pereira escreveram no jornal “Público”.

Agora foi a vez da autarca de Alpiarça, quiçá à procura de votos à direita que possam garantir uma vitória ou uma maioria.

É verdade que várias figuras de peso dos socialistas – Francisco Assis, Ana Gomes, Eurico Brilhante Dias – já condenaram publicamente estas posições, acusando, inclusive, os seus autores de estarem a colar-se ao Chega.

Mas não deixa de ser curiosa esta ambiguidade de um PS que vai sendo cada vez menos socialista e cada vez mas populista. Não será, por isso, surpreendente se esta corrente engrossar à medida que o prazo para as autárquicas for minguando. Nem que a mesma seja replicada, com maior ou menor ênfase, de norte a sul por autarcas candidatas e candidatos do PS.

A verdade é que, por mais que Brilhante Dias defenda que estas posições “não caraterizam o PS”, parece cada vez mais difícil definir que posições ou o que é que carateriza, na realidade, a grande família socialista.

André Julião
Sobre o/a autor(a)

André Julião

Jornalista
Termos relacionados: