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Escolhemos defender o Serviço Nacional de Saúde

Não temos a força do dinheiro. Não controlamos a comunicação social. Recusamos o populismo e a mentira como estratégia política. Resta-nos o mais importante. A rua. A rua é a nossa força. E sejamos honesto, é também a nossa alegria.

Por trás do circo mediático que se montou na política portuguesa, e que é o caldo onde fermenta a extrema-direita, está um país. E é esse país que nos interessa discutir. Nesse país o estado social está a saque. Faltam médicos, enfermeiros, professores, técnicos, polícias. Falta casa a muita gente. Nesse mesmo país há quase 2 milhões de pessoas que não tem médico de família. E esse país tem um ministro da saúde que festeja um concurso para contratar médicos de família onde ficam 70% das vagas por preencher. “Um sucesso”, diz o ministro, porque conseguiu que 90% dos especialistas em Medicina Geral e Familiar que se formaram em Março deste ano, assinassem contrato com o SNS. Esqueceu-se de dizer que a maioria dos jovens especialistas, quando se formam, ainda não tiveram tempo suficiente para contemplar alternativas. E que, se se verificar o que tem acontecido nos últimos anos, apesar de terem assinado contrato, vão sair do SNS. O ministro também se esqueceu que nas regiões mais depauperadas do país, foi onde menos jovens especialistas escolheram ficar. No norte, com uma cobertura de médicos de família próxima dos 100%, quase todas as vagas foram ocupadas. No sul, onde faltam médicos de família a mais de 1 milhão de pessoas, ficaram preenchidas apenas 19% das vagas. O “sucesso” do ministro, não resolve o problema, tudo se manterá na mesma.

Há quase 2 milhões de pessoas que não têm médico de família, e o ministro da saúde festeja um concurso para contratar médicos de família onde ficam 70% das vagas por preencher

Por trás do circo mediático, está uma maioria absoluta a fazer escolhas. Ignorar as carreiras dos profissionais de saúde, entregar serviços aos privados, subfinanciar o SNS, são escolhas, não são inevitabilidades. Aos poucos o sonho da direita de partir o SNS aos bocados e entregá-lo aos privados é posto em marcha, pela mão da maioria absoluta do PS. Se o PSD não cresce, é porque está lá a maioria absoluta a realizar os seus sonhos, o seu programa.

Mas nós também temos escolhas a fazer. Em 23 anos, o Bloco mudou o país. Somos mais livres, mais iguais e uma enorme pedra no sapato da voragem neoliberal do centrão. Escolhemos por isso defender o Serviço Nacional de Saúde. Não temos a força do dinheiro. Não controlamos a comunicação social. Recusamos o populismo e a mentira como estratégia política. Resta-nos o mais importante. A rua. A rua é a nossa força. E sejamos honesto, é também a nossa alegria.

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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