Encerrou, no final deste mês de Fevereiro, mais uma etapa na vida política do período eleitoral: os debates. Muitas foram as críticas, cada vez mais comuns, do formato em que decorrem estes debates, considerando-se não serem extensos ou cordiais o suficiente para abordar todas as temáticas importantes ao país. Na verdade, a maioria dos debates, especialmente entre os candidatos dos partidos à direita, nada apresentaram de novo sem ser os típicos argumentos infundados, assentes sempre na redução de todo e qualquer imposto e nas meias-verdades superficiais. Mesmo os partidos à esquerda contaram muitas vezes as milésimas de segundo para falar em algo mais que “acordos de governação com o Partido Socialista” que, apesar de importante, é redutor tendo em conta a extensão dos seus programas políticos.
Assim, muitas foram as temáticas que não conseguiram ter o seu momento de destaque, e outras tantas que apenas foram referidas fora do controlo da própria moderação dos debates. No geral, pouco se falou de temas como a cultura, o interior, a descentralização das instituições ou mesmo as políticas de género. Foi também esquecido um tema essencial para muitos daqueles que também votam e têm uma visão política para o seu país e que não gastou nem um segundo em qualquer debate: o ensino superior.
Cada partido tem, no seu respetivo programa eleitoral propostas relativas ao Ensino Superior, Investigação e Ciência e, no entanto, nunca se tornou um tópico debatido nas dezenas
de diversos encontros entre os vários candidatos políticos, com a única exceção de ser mencionado enquanto tópico acessório para falar de emigração jovem. As universidades, os seus estudantes e todos os outros profissionais da área mereciam esse destaque, sabemos disso.
Merecem esse destaque porque Portugal produz atualmente a geração mais qualificada de sempre, uma geração em que o acesso ao Ensino Superior é - com as suas devidas falhas – quase globalizado. Ensino Superior esse que garante a contínua produção de conhecimento e inovação, mesmo que atualmente grandes massas destes estudantes prefiram sair do seu país em busca de melhores condições laborais e salariais. Merecem também esse destaque porque os investigadores, e grande parte dos docentes universitários, vivem em condições precárias e deincerteza, e precisam de políticas públicas que lhes dêem voz. Merecem esse destaque pela instabilidade em que vive uma pessoa bolseira de investigação que, ao mesmo tempo que quer desenvolver o seu trabalho científico, vê-se confrontada com as mais diversas burocracias, entraves financeiros e demais problemáticas que se sabe terem resposta em alguns programas partidários.
O subfinanciamento do Ensino Superior e das Universidades Públicas portuguesas poderia ter ocupado 3 minutos a cada candidato, e até dava para todo um debate isolado sobre a questão, como em muitos outros tópicos. O que nos faz questionar como foi possível ignorar a falta de acesso dos jovens recém-licenciados ou mestres a uma vida digna e a uma carreira estável, ignorando também o modelo de gestão das nossas universidades, a sua relação com o mundo empresarial e a qualidade de lecionação.
O Ensino Superior não é um assunto de nicho, e é posto em causa quando as várias forças políticas se vinculam caso vençam as eleições, mesmo as forças mais antidemocráticas. Não é menos importante discutir as implicações de extinguir cursos e currículos de menor relevância para a sociedade portuguesa como propõe o partido de extrema-direita, em prevalência de discussões relativas ao sistema fiscal ou à saúde. E certamente não será uma discussão secundária saber se o partido vencedor, a coligação de forças, ou mesmo a maioria parlamentar defenderá o aumento das propinas ou a redução da despesa pública com as bolsas de estudo.
Portugal pede por uma mudança daquilo que é a gestão do ensino superior público, garantindo o acesso igual a todos e a sua não mercantilização. Pede também por mais financiamento e um melhor processo de atribuição de bolsas de investigação, promovendo o país como epicentro científico nas suas várias vertentes. Não existem garantias de que os programas políticos das várias forças de direita tenham isso em mente, pelo contrário, e também não existe um país do futuro sem o conhecimento e a academia. Era por isso tão importante se ter dedicado algum tempo a discutir o futuro dos milhares de jovens universitários e as suas condições atuais, mostrando que é nos diálogos políticos à esquerda que se permite garantir aos jovens as razões para planear e sonhar com um país melhor.
