Um dia depois das eleições europeias, é possível tirar algumas conclusões dos resultados nacionais e internacionais. Em Portugal, a extrema-direita almejava ser um dos partidos mais votados. Tinham como objetivo ter quase tantos ou mais deputados que o PS ou PSD. Como sabemos, isso não se confirmou e, se compararmos os resultados das eleições europeias com os resultados das últimas eleições legislativas, vemos uma queda vertiginosa do partido de André Ventura (sim, porque sem André Ventura o partido quase não existia). Por outro lado, e apesar da dificuldade inerente a estas eleições, o Bloco manteve-se representado no Parlamento Europeu com a Catarina Martins a ser eleita.
Ao contrário daquilo que aconteceu em território nacional, pela Europa fora foi possível observar um crescimento da extrema-direita. Na minha opinião, um crescimento não tão grande como se temia, e ainda bem, mas ainda assim foi um crescimento significativo e há que tirar conclusões deste fenómeno. Na França, eleições já foram convocadas após a vitória esmagadora do partido de Marine Le Pen, e na Alemanha, o partido de extrema-direita já foi o segundo mais votado. Entre muitos outros exemplos por essa Europa fora, apontam-se resultados históricos para a extrema-direita. Serão estes então os tão falados valores europeus? Será o racismo, a homofobia, a transfobia, o machismo e outros valores que cheiram a mofo os valores europeus que queremos ver perpetuados? Isto é ainda mais significativo numa altura em que a Europa e o mundo enfrentam conflitos armados na Ucrânia e no momento em que assistimos ao genocídio na Palestina, conflitos que a Europa não pode alimentar nem justificar a troco de lucro e de morte.
Todos aqueles partidos que defendem a democracia, como um bloco de esquerda, têm agora um papel fundamental na desconstrução desses discursos de ódio que podem levar a Europa à beira do abismo. A história já nos ensinou a capacidade destrutiva que estas ideologias têm e cabe a nós lutar por uma Europa mais justa, livre e solidária. Voltando aos resultados nacionais, a eleição da Catarina Martins é extraordinariamente importante para a defesa desta Europa aberta, diversa e livre, e tenho a certeza de que ela irá muito bem representar Portugal no Parlamento Europeu na luta pela democracia e na luta contra a extrema-direita.
Relativamente a André Ventura, é notória a sua desilusão e é expectável que mais uma vez ponha o seu lugar à disposição para novamente ser eleito numa tentativa de redenção ou de demonstração de falsa humildade. Devo também salientar que acho lamentável que partidos de esquerda, como o Bloco ou a CDU, vejam diminuídos os números de deputados europeus enquanto que partidos de direita crescem. Avizinham-se tempos incertos e resta-nos não desistir nunca de lutar pelos ideais em que acreditamos, para que os valores europeus sejam a democracia, a liberdade, a diversidade e a prosperidade.
