A guerra ao plástico é societária e, à excepção da obrigatoriedade das inenarráveis palhinhas de cartão que se dissolvem e amolecem ao segundo trago e que obrigam a sorver o sabor do papelão, é uma guerra que se ganha em batalhas sucessivas e pelo decurso do activismo.
Para além das manifestações promovidas pela Greve Climática Estudantil, o "Movimento Fim ao Fóssil" procura ocupar o espaço público com uma agenda transgressora que, ao contrário da dúbia acção da sopa atirada aos girassóis de van Gogh (que fazia da arte uma arma de arremesso quando a arte é redentora), alerta com proporcionalidade. A falta de vontade política para travar a crise climática é evidente e não pode dispensar disrupção, rasgões e opiniões divididas. O activismo não se faz apenas de informação e pela habitação de lugares nobres. Se assim fosse, Greta Thunberg nunca teria faltado às aulas.
A urgência na diminuição das emissões globais não se compadece com águas mornas, mas foi o aquecimento que veio à superfície quando ontem se assinalou o Dia Mundial dos Oceanos. Celebrado desde 1992, mas só oficialmente decretado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2008, não deixa grande espaço para comemorações. Assistimos ao mesmo filme de avanços e retrocessos, vezes sem conta, invariavelmente a adensar as notas de agravamento. A pesca industrial e os resíduos plásticos são a morte anunciada dos ecossistemas, a milhas de tempo e distância. Se atentarmos às temperaturas globais do planeta, Maio foi o segundo mês mais quente jamais registado. A temperatura média da superfície oceânica aumentou 0,13 graus por década nos últimos 100 anos. Uma evidência que os negacionistas climáticos não aceitam: pelo facto de não estar a fazer sol à nossa porta, não significa que esteja a chover no Mundo.
Perante a calamidade que entra olhos dentro, há muito ruído entretido à volta dos esvaziadores ou extintores dos pneus de SUV ("The Tyre Extinguishers), grupo radical internacional de activismo climático que fez a sua primeira acção no nosso país na passada semana. Sendo que esvaziar pneus não é crime, proibidos também não serão os sacos plásticos ultraleves para pão, fruta e legumes em supermercados. O Governo decidiu alterar a norma, arrepiando o caminho à lei que proibiria os sacos ultraleves desde o dia 1 de Junho, optando por proceder à cobrança dos mesmos. Uma fonte. Não se sabendo quando, quanto ou para quem, resta a certeza de que alguns proprietários dos "sport utility vehicles", despreocupados da pegada ambiental, não se importarão de pagar uns quantos sacos. Mas a culpa é do activismo que não esvazia.
Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 8 de junho de 2023