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É urgente…

RESPEITO, gritam os professores. “Em defesa da Escola Pública”, “Hoje ensinamos, Lutando”, "Fartos de ser pisados”, “Professores unidos, jamais serão vencidos”. É um grito de indignação, mas é também um grito de luta e de urgência de unidade. Dia 11 de Fevereiro lá estaremos.

19 de Janeiro de 2023. Faz hoje 100 anos que Eugénio de Andrade nasceu. Que bom seria este mundo se a poesia estivesse mais presente na vida das pessoas. Acredito firmemente nas palavras do Poeta “É urgente o amor…”

Começo este meu texto assim. Comecei o meu dia assim, lembrando a efeméride. A vida corre muito depressa, mas é bom parar e cuidar daquilo que persiste e que não deve ser esquecido. Amanhã terei um plenário de professores aposentados e estive a ler atentamente a moção da Direcção ao 6º Congresso do SPGL. Não posso deixar de me emocionar quando lá vejo a referência a uma luta, num longínquo 1978, pela defesa da gestão democrática em que estive com mais setenta colegas, sempre apoiados pelo SPGL, o nosso sindicato de professores, então ainda na Travessa das Gaivotas. Procuro na moção ao Congresso os sinais que respondam ao momento que se vive na classe docente, uma classe envelhecida, há muito desrespeitada e desvalorizada pelos governos e que, de repente, acordou e se encontra disposta a tudo fazer para reverter a sua situação. Amanhã será a vez de o ministro responder às exigências dos sindicatos. Hoje é a vez de o distrito de Braga estar em greve e amanhã será Bragança. Desde segunda-feira, quando o distrito de Lisboa massivamente respondeu ao apelo dos sindicatos da FENPROF, que os professores deram um sinal de que não estão dispostos a parar. Nem mesmo quando o ministro acena com meias respostas, pautadas pela crónico subfinanciamento e desinvestimento na Educação, que levam a que a carreira dos professores seja sujeita a abusos, a roubos, a garrotes, que irão desembocar numa aposentação indigna. RESPEITO, gritam os professores. “Em defesa da Escola Pública”, “Hoje ensinamos, Lutando”,”Fartos de ser pisados”, “Professores unidos, jamais serão vencidos”. É um grito de indignação, mas é também um grito de luta e de urgência de unidade. Dia 11 de Fevereiro lá estaremos.

Ontem não pude ficar em casa. Em plenário na Dr. António Augusto Louro, onde fui professora e de que me orgulho de ter sido a primeira presidente do Conselho Directivo, quando a escola ainda se chamava Escola Preparatória do Vale da Romeira, os professores decidiram que tinham de apelar às outras escolas e agrupamentos do concelho para fazerem uma marcha pelo concelho do Seixal terminando junto à Câmara Municipal. Juntei-me a esses meus colegas, a outros da Paulo da Gama e de outras escolas. Professores, auxiliares de acção educativa, encarregados de educação, alunos e alunas, autarcas, população. Já há uns anos tínhamos feito aquele mesmo percurso, quando lutávamos contra o amianto na escola. Desta vez, as reivindicações eram mais amplas e tinham a ver com a assunção da defesa da dignidade da profissão, da carreira docente, da educação e da Escola Pública. Ao ver aquelas centenas de pessoas numa manhã de chuva lembrei-me do “Acordai” de Fernando Lopes Graça que tantas vezes foi cantado no tempo da troika, lembrei-me dos Deolinda naquele seu famoso álbum em que em contraponto ao “agora não…” por milhentas razões se contrapunha “agora sim vamos dar a volta a isto…” ou “Se é para acontecer, pois, que seja agora”.

No início de Fevereiro, o SPGL vai reunir o seu 6º Congresso. Essa realização tem de ser um momento importante de avaliação e de perspectivação do futuro, no qual o nosso Sindicato terá de se assumir na sua força de ser o porta-voz dos anseios e das reivindicações da classe profissional docente, a base desse pilar fundamental da democracia e da Constituição da República Portuguesa que é a Educação e a Escola Pública. Não faltaremos à chamada. Na luta e na unidade, pelo 25 de Abril.

Artigo publicado em SPGL a 31 de janeiro de 2023

Sobre o/a autor(a)

Professora aposentada, feminista e sindicalista
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