Daqui a muito pouco tempo, crianças e jovens voltam à escola, nessa experiência sempre única que é a de um novo ano lectivo. Têm direito ao melhor acolhimento possível e a um recomeço que lhes dê confiança. As suas famílias têm direito a não esperar menos do que isto da escola pública. Mas a fúria reformista estival do governo optou por lhes retirar estes direitos.
O governo do PS, não satisfeito por enxotar da profissão 15 mil professores - com reformas penalizadas e elevados custos para o sistema em experiência e saber – e por precarizá-la indecentemente (33 mil candidatos fora do concurso de professores e um aumento exponencial de contratados), decidiu redesenhar sobre o joelho a rede escolar e, entre encerramentos e mega-agrupamentos, feitos à papo-seco, agravou a instabilidade na escola pública.
E enquanto PS e PSD arrulham e se bicam sobre um orçamento que aprovarão contra a criação de emprego e os trabalhadores, ou reclamam os golos do estado social, passando lixívia sobre os ataques feitos e a fazer, se os deixarmos, há professores/as, entre outros profissionais, que não pararam para que as escolas não rebentassem, em Setembro, sob a cavalgada reformista, que as obrigou a mudar de vida num piscar de olhos.
O início de Setembro é determinante no sucesso de um ano lectivo: professores e professoras planificam o ano, trabalham em conjunto, preparam a recepção aos alunos, caracterizam os grupos com os quais trabalharão. Mas o caos instalou-se onde se exigia tranquilidade e trabalho: os regulamentos internos e todos os instrumentos que marcam a cultura de cada escola foram deitados no lixo, a instabilidade gerada pelo modelo de gestão de Lurdes Rodrigues sai renovada, e os processos arrumados ontem são reabertos agora, dezenas de professores que se desconhecem acotovelam-se nas salas de professores e nas secretarias da escola-mãe, grupos e departamentos cumprem as rotinas, claro, mas com delegados e coordenadores que muitos desconhecem, ou cujos critérios de nomeação são tantas vezes insólitos.
E enquanto tantas crianças saem, este ano, de escolas onde a proximidade era possível para entrarem na escola da multidão, o país continua à espera de saber quanto tempo demorarão as viagens casa-escola, e os custos para a vida das crianças deslocadas, se as carrinhas terão uma auxiliar para as acompanhar no percurso, ou as razões do encerramento de escolas de 1.º ciclo com bons desempenhos.
Entretanto, motivação e estabilidade profissional, zero, reforma curricular, zero, reforço de mecanismos e meios para combater o insucesso escolar, zero. E se no final do ano lectivo, os números relativos ao sucesso escolar se mantiverem, ou melhorarem, que é o que se deseja, o mínimo que o governo do PS deve fazer é uma procissão de homenagem a todos os professores e profissionais de educação. Com o frenesim reformista que tem atacado a escola pública, e com tudo o que falta fazer por ela, Sócrates só pode dizer: porreiro, pá, podia ser muito pior! Estivemos e estaremos do outro lado: podia, pode ser muito melhor!