Há quem imagine o terrorismo como algo restrito a bombas, atentados e grupos extremistas. Mas o terrorismo, tem sua essência, a produção do medo. A manipulação do terror como ferramenta de controle social e político. E, sob essa ótica, muitos que se dizem civilizados e democráticos podem ser considerados terroristas, com poder político, em vez de explosivos.
O medo é o motor oculto da história. Sempre foi! A Igreja Católica usou o medo do inferno e das supostas bruxas, assim como a Igreja de Salem utilizou o medo que causou histeria coletiva. Já Hitler refinou a técnica ao transformar o medo do colapso econômico e da humilhação nacional em ódio ao povo judeu, uma engenharia de manipulação que fez da paranoia uma política de Estado. Criou-se o monstro, ofereceu-se o “salvador”, e o povo, sedento por segurança, entregou a alma ao abismo.
Hoje, a mesma lógica continua apenas trocando-se os nomes e as bandeiras. Israel, com o apoio silencioso e cumplicidade de potências mundiais, transformou o medo do Hamas em licença para o genocídio. Usa o pavor legítimo de ataques terroristas como justificativa para bombardear escolas, negar ajuda humanitária e permitir que crianças morram de fome em Gaza sob o argumento de que “poderiam um dia virar terroristas”. Isso não é, e nunca foi, autodefesa. É a disrupção completa da humanidade, o ponto em que a empatia se torna suspeita e a vida perde o direito de existir se nascer do lado errado do muro.
O medo, mais uma vez, legitima o inominável. É ele quem transforma vítimas em ameaças, quem sequestra navios de ajuda em águas internacionais, quem cria um consenso de silêncio em torno da barbárie. O mundo assiste, anestesiado, enquanto o terror se institucionaliza em nome da segurança. O medo é tão eficiente que já nem precisa ser imposto: é cultivado, naturalizado, incorporado ao vocabulário diário.
E não é apenas em Gaza. Também em Portugal, o medo é explorado como recurso político, agora com sotaque e cor de pele. Fala-se em invasão, em perda de identidade, em ameaça à cultura nacional, como se o país estivesse sitiado por estrangeiros famintos. Mas as portas da imigração portuguesa nunca estiveram abertas. Há regras, há filtros, há seletividade. O discurso de que o país foi tomado é só mais um produto do mesmo mercado do medo, o mesmo que alimenta guerras, muros e votos.
O medo é o “vírus” mais antigo do poder. Ele não mata de uma vez, corrói aos poucos, até que a humanidade se torne apenas retórica. A disrupção é moral: quando deixamos de ver seres humanos e passamos a ver ameaças, já não há civilização, só o eco do terror administrado.
Enquanto o medo for mais útil que a verdade, continuará a haver quem o fabrique em massa e quem o consuma, acreditando estar a salvo.
Esse texto foi escrito na variante da Língua Portuguesa do Brasil.
