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À direita, nada de novo
As últimas semanas foram marcadas por congressos de dois partidos do espectro político da direita e extrema-direita e respetivas réplicas dos seus interlocutores.
O que passou para fora destes dois momentos políticos não foram, como seria de esperar, os projetos que têm para o país, as grandes linhas estratégicas que debateram (ou deviam ter debatido). Foram apenas (para além das questões internas) as geometrias que podem ser desenhadas para poderem entender-se e chegar ao governo.
Se a Iniciativa Liberal jura que nunca fará um acordo com o Chega (mas fará com o PSD), o PSD apresenta formulações cada vez mais claras e óbvias sobre qual é o seu caminho para chegar ao governo da república. Este passa pela “solução dos Açores”. Por exemplo, o líder parlamentar do PSD na Assembleia da República, em recente entrevista ao jornal Expresso reafirma a formulação de Montenegro no congresso do PSD: “nunca formaremos um governo ao arrepio dos nossos valores, princípios e programa”.
Ora, nessa formulação já só caem os incautos ou os muito distraídos. Os acordos que o PSD firmou nos Açores para chegar ao governo regional reafirmam o respeito pelos direitos humanos. Mas o que não apagam é o acordo com o Chega. O caminho do PSD é a ampliação desta solução.
O que preocupa de facto a direita não é encontrar soluções para os problemas mais graves que enfrentam hoje as populações. É a forma como mais rapidamente podem reeditar a nível nacional a solução dos Açores para chegar ao governo, como demonstra a ausência de propostas para o país dos congressos da direita.
Não é de admirar a ausência de alternativa à direita. Ela resulta do facto do PS, no governo da república, fazer pouco diferente do que faria o PSD. Ambos sempre subjugados às opções e imposições de Bruxelas.
Esta lógica confirma-se com a solução de governo nos Açores, que já leva mais de dois anos, pois as diferenças da governação e das alternativas ficam - em regra - pela intensidade das políticas ou pela competência (ou falta dela). É certo que há áreas em que há diferenças, mas as opções estratégicas no que respeita aos serviços públicos, à relação entre o trabalho e as empresas ou em relação às opções de fundo para o desenvolvimento da região são globalmente semelhantes.
A crise permanente em que vivemos, o aprofundar das desigualdades sociais, o incumprimento cada vez mais reiterado de direitos sociais fundamentais como a habitação e a saúde exigem soluções que têm de ser construídas desde já.
É a partir da procura de soluções para esses e outros problemas, como o empobrecimento generalizado de quem trabalha por via da especulação, da inflação e do aumento das taxas de juro, que haverá forças para implementar políticas alternativas.
É na construção dessas soluções alternativas que a esquerda se deve empenhar, agregando forças para criar maiorias sociais que as tornem realidade.
Não é certamente a IL que se preocupa em acabar com a especulação imobiliária, o CH que se preocupa em políticas sociais de combate à pobreza nem o PSD que pretende controlar os preços e combater a especulação. A todos esses problemas que o PS não dá resposta a direita também não. A prova disso está nos Açores. Os mesmos problemas, a mesma ausência de soluções. À direita, nada de novo.
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