Há alguma dessintonia no estilo, na forma de falar, no tom de voz – mas nem sempre. E depois há a semelhança ou até a imitação.
Um encontrou-se com um dos ministros de Netanyahu que defende a limpeza étnica em Gaza. O outro festejou com os diplomatas de Netanyahu, enquanto decorre a limpeza étnica em Gaza.
Um insulta os adversários se o criticam, outro faz do insulto aos adversários a sua verborreia quotidiana. Ambos falam a mesma linguagem.
Um usa os números da forma mais criativa: se há menos trabalhadores no lixo, basta dizer que há mais. O outro usa as invenções da forma mais inventiva. Ambos deitam os foguetes e não apanham as canas.
Um publica uma revista paga pela Câmara com 260 fotos suas em 252 páginas, outro impõe a sua fotografia emoldurada em todos os gabinetes do partido. Ambos se adoram a si próprios, o que é bonito.
Um promove-se na base da suspeita contra os imigrantes, outro aponta o dedo aos imigrantes. Ambos detestam os outros, o que é feio.
Um diz encostem-nos à parede e outro aplaude o encostar à parede. Ambos querem mais.
Um inventa números ou ameaças contra a segurança e atira-se à PSP, outro atira-se aos números da PSP e inventa ameaças. Ambos querem menos.
Um imita Ayuso, que em Madrid representa a direita convertida em extrema-direita, e o outro imita Ayuso. Ambos se imitam um ao outro. Essa é talvez a sua maior diferença.
Este texto é parte da intervenção de Francisco Louçã no podcast “Um pouco mais de azul”, onde também participam o jornalista Fernando Alves e a poeta Rita Taborda Duarte. O podcast completo aqui
