Diga-me a diferença entre Moedas e Ventura

porFrancisco Louçã

18 de fevereiro 2025 - 16:54
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Um publica uma revista paga pela Câmara com 260 fotos suas em 252 páginas, outro impõe a sua fotografia emoldurada em todos os gabinetes do partido. Ambos se adoram a si próprios, o que é bonito.

Há alguma dessintonia no estilo, na forma de falar, no tom de voz – mas nem sempre. E depois há a semelhança ou até a imitação.

Um encontrou-se com um dos ministros de Netanyahu que defende a limpeza étnica em Gaza. O outro festejou com os diplomatas de Netanyahu, enquanto decorre a limpeza étnica em Gaza.

Um insulta os adversários se o criticam, outro faz do insulto aos adversários a sua verborreia quotidiana. Ambos falam a mesma linguagem.

Um usa os números da forma mais criativa: se há menos trabalhadores no lixo, basta dizer que há mais. O outro usa as invenções da forma mais inventiva. Ambos deitam os foguetes e não apanham as canas.

Um publica uma revista paga pela Câmara com 260 fotos suas em 252 páginas, outro impõe a sua fotografia emoldurada em todos os gabinetes do partido. Ambos se adoram a si próprios, o que é bonito.

Um promove-se na base da suspeita contra os imigrantes, outro aponta o dedo aos imigrantes. Ambos detestam os outros, o que é feio.

Um diz encostem-nos à parede e outro aplaude o encostar à parede. Ambos querem mais.

Um inventa números ou ameaças contra a segurança e atira-se à PSP, outro atira-se aos números da PSP e inventa ameaças. Ambos querem menos.

Um imita Ayuso, que em Madrid representa a direita convertida em extrema-direita, e o outro imita Ayuso. Ambos se imitam um ao outro. Essa é talvez a sua maior diferença.

Este texto é parte da intervenção de Francisco Louçã no podcast “Um pouco mais de azul”, onde também participam o jornalista Fernando Alves e a poeta Rita Taborda Duarte. O podcast completo aqui

Francisco Louçã
Sobre o/a autor(a)

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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