Dia Mundial do Refugiado

porAlmerinda Bento

24 de junho 2023 - 0:26
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Desde 2000, a ONU assinala o dia 20 de junho como o Dia Mundial do Refugiado. Neste meu texto quero destacar alguns números que ajudam a ter uma ideia da situação em Portugal, com destaque para as crianças refugiadas e relembrar a tragédia que ocorreu na semana passada no Mediterrâneo.

Desde 2000, a ONU assinala o dia 20 de junho como o Dia Mundial do Refugiado, de modo a “realçar a coragem, os direitos, as necessidades e a resiliência dos refugiados.” Este ano, o mote das celebrações em Portugal refere a solidariedade e a inclusão. Neste meu texto quero destacar alguns números que ajudam a ter uma ideia da situação em Portugal, com destaque para as crianças refugiadas e relembrar a tragédia que ocorreu na semana passada no Mediterrâneo, caracterizada como das mais mortíferas.

A UNICEF Portugal refere que em 2022 houve 1992 pedidos de protecção internacional, dos quais 354 crianças, sendo que 83 não estavam acompanhadas. Neste ano foram recebidos mais de 900 pedidos de cidadãos, incluindo 59 menores não acompanhados, o que corresponde a um aumento face ao mesmo período de 2022. A maioria destes pedidos é de cidadãos e cidadãs vindos do Afeganistão, da Índia, da Gâmbia e do Paquistão. Foram concedidos 14111 pedidos de protecção temporária a crianças deslocadas da Ucrânia, durante um ano de guerra. A nível mundial, em 2022, o número de crianças deslocadas atingiu 43,3 milhões, essencialmente por conflitos e violência. Ainda segundo dados da UNICEF Portugal, os grandes desafios que se colocam às crianças ao nível da inclusão têm a ver com a barreira linguística, a discriminação em geral, a falta de oportunidades educativas e profissionais, o risco de pobreza e exclusão social.

Na semana passada, ocorreu ao largo da Grécia, um dos mais mortíferos naufrágios que há memória no Mediterrâneo, que há vários anos se tornou um verdadeiro cemitério a céu aberto. Na busca desesperada de uma vida melhor, fugindo à guerra, à fome e à ausência de direitos básicos, sujeitando-se por mais de 4000€ por pessoa a fugir dos seus países em embarcações que não passam de “caixões flutuantes”, desta vez foi uma traineira com 30 metros de comprimento carregando entre 750 e 800 pessoas. Com destino a Itália, a traineira carregada de mulheres e crianças no porão, impossibilitadas de subir ao convés, onde se amontoavam os homens, deixou de ter condições de navegabilidade a cerca de 80 km ao sul da Grécia. É difícil imaginar a aflição naquela viagem para a morte, quando já não havia água potável nem condições mínimas e a terra firme ainda estava tão longe. No dia 14 de Junho, de madrugada, a traineira virou-se tendo sobrevivido 104 homens. 78 corpos foram resgatados e as autoridades falam em mais de 500 desaparecidos. Vinham da Síria, do Egipto, do Paquistão. A ONU, a Europa, as autoridades, os governos “realçam a coragem, os direitos, as necessidades e a resiliência dos refugiados”, mas passada uma semana do naufrágio e neste Dia Mundial dos Refugiados assiste-se ao passa-culpas das autoridades gregas e europeias em mais um desastre que podia e devia ter sido evitado.

Acho que há uma apatia e uma anestesia das pessoas face aos números. Estamos habituados a ouvir que as pessoas não são números. Pois não são, mesmo. Uma pessoa morta é uma tragédia. Podemos ficar indiferentes a que no primeiro trimestre deste ano morreram 441 pessoas a tentar atravessar o Mediterrâneo, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações?

Artigo publicado em SPGL a 20 de junho de 2023

Almerinda Bento
Sobre o/a autor(a)

Almerinda Bento

Professora aposentada, feminista e sindicalista
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