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Desliguem as luzes, que vem aí a crise!!!

Este tipo de estratégia tem uma finalidade social muito importante – convencer as instituições públicas, os funcionários públicos e os cidadãos/ãs de que são eles que têm de pagar esta crise.

Têm-se multiplicado as reuniões de administrações e chefes de serviço nas unidades de saúde portuguesas, após a Ministra da Saúde ter anunciado o seu “PECzinho”, na tentativa de se diminuir a despesa corrente, pelo menos até aos 5% mínimos como objectivo global para a saúde. Têm, neste contexto saído várias notícias sobre decisões destas unidades. O Público noticiou esta semana os resultados da política de contenção de despesa na Direcção-Geral de Saúde (DGS) e nos serviços que dependem directamente desta e que tipificam o que anda a ser discutido nos nossos hospitais e centros de saúde.

Então, a DGS, decidiu que:

1. Os almoços e coffee-breaks suportados pela DGS só podem ocorrer em situações excepcionais devidamente fundamentadas e previamente autorizadas pela Direcção-Geral.
2. As chamadas telefónicas devem ser realizadas no menor tempo possível, “privilegiando-se a ligação para números de rede fixa em detrimento de números móveis”.
3. “Deve ser dado especial cuidado ao gasto excessivo de material de higiene (água, toalhetes, papel e sabonete)”
4. “Cada trabalhador deve zelar pela poupança energética, desligando as luzes e equipamentos de climatização à hora do almoço e, no final do dia, desligando o computador, o monitor, o equipamento de climatização e as luzes do gabinete”
5. As instalações da DGS passam a encerrar às 21h00, hora a que serão desligados os respectivos abastecimentos de energia eléctrica.
6. A impressão de textos e outros documentos apenas deve ser realizada quando estritamente necessária e a impressão a cores deve ser utilizada a título excepcional, assim como o recurso a fotocópias.
7. O “consumo de material de escritório deve ser racionalizado”.

Em relação a este caso em particular, assaltam-me de imediato 2 questões:

1ª Questão – Será que antes da crise, na DGS não se zelava pela poupança energética? À noite as luzes ficavam ligadas mesmo com os escritórios vazios? Não se racionalizava o consumo de material de escritório? Os funcionários telefonavam para linhas de valor acrescentado? Imprimiam-se documentos a cores ao desbarato?????

2ª Questão - Alguém fica convencido que são este tipo de medidas que resolvem uma crise financeira da dimensão daquela que estamos a atravessar?

Ana Jorge abraçou a estratégia do Governo com toda a força: medidas demagógicas e populistas, cujo impacto na economia é desprezível. No entanto este tipo de estratégia tem uma finalidade social muito importante – convencer as instituições públicas, os funcionários públicos e os cidadãos/ãs de que são eles que têm de pagar esta crise, que têm de abdicar da sua vida para que os bolsos dos especuladores que nos trouxeram até esta situação sejam sempre preservados.

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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