De polémica em polémica…

porAntónio Lima

02 de janeiro 2023 - 22:48
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O centro da política nacional passou das disputas sobre que políticas implementar, para as disputas no interior do PS e para os dislates dos governantes.

O mandato do atual governo da república do PS, saído de um maioria absoluta que supostamente seria um garante de estabilidade, tem sido marcado por uma constante catadupa de polémicas, sempre com o condão de monopolizar o debate político. O debate que se quer sobre os problemas do país fica centrado nos problemas do governo e do Partido Socialista.

É esse o primeiro resultado da maioria absoluta: o centro da política nacional passou das disputas sobre que políticas implementar, para as disputas no interior do PS e para os dislates dos governantes, tenham eles mais ou menos relevância política e gravidade.

Estão longe de ser irrelevantes as constantes polémicas intra-governativas, umas mais importantes do que outras. Algumas roçam o escândalo e a falta de vergonha com que alguns “eleitos” pelo poder se servem deste e são um insulto às pessoas que lutam diariamente para sobreviver num contexto de aprofundamento de uma crise permanente.

O mais recente caso da ex-secretária de estado do Tesouro que saiu da administração da TAP com meio milhão de euros de indemnização para logo a seguir transitar para outra empresa pública, a NAV, e a seguir para o governo para a pasta do Tesouro é um tratado de como uma determinada elite se serve do estado e dos cargos para se servir.

Não me debruço sobre os aspetos legais deste caso pois eles não são totalmente conhecidos e o cruzamento de várias leis pode levar a interpretações para todos os gostos.

Todavia, a avaliação de quem sai por sua iniciativa de uma empresa pública que impõe cortes aos trabalhadores, ao mesmo tempo que o Estado impõe um empobrecimento forçado à maioria da população por recusar aumentar salários ao nível da inflação - e ainda acha que deve receber 1,5ME de euros de indemnização, “reduzida” a meio milhão pela TAP, não pode passar senão pela total reprovação.

É altamente duvidoso que ninguém com responsabilidades no governo conhecesse esta situação. Ninguém acredita que os ministros e o primeiro-ministro não se preocupem com os contornos da saída de administradores das empresas públicas e que não controlem as contas e os acordos firmados por estas. A ignorância e até a incompetência são por vezes o manto que tenta ocultar a responsabilidade política.

Este não foi o único caso escandaloso que colocou o governo a lutar mais contra si próprio do que contra os problemas do país. Outros casos, dignos do um sketchde Monty Python, como o que protagonizou o ex-secretário de estado adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves. Este, enquanto presidente do município de Caminha, pagou 300 mil euros por um pavilhão “transfronteiriço” que nunca existiu e dificilmente existirá num negócio que envolveu um empresário que lembra os autores dos e-mails que recebemos na caixa de correio e que vêm dos mais longínquos países a oferecem-nos mundos e fundos, literalmente.

O que é dramático é que, com mais ou menos casos com contornos escandalosos, a maior preocupação da maioria absoluta do governo do PS é cada vez mais com o que será preciso para levar a longa legislatura até ao fim. De polémica em polémica, esquecem-se os problemas das pessoas. Não escamoteando os escândalos constantes que surgem é preciso colocar no centro da política os problemas das pessoas comuns.

António Lima
Sobre o/a autor(a)

António Lima

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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