Danadas e Insubmissas

porBeatriz Realinho

28 de fevereiro 2022 - 22:36
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Esta é a chamada para que no dia 8 estejamos todas juntas a fazer-nos ouvir. Somos danadas, somos insubmissas, sabemos que os nossos direitos não são dados adquiridos, que não se pode ser feminista sem lutar pela liberdade, e que esta luta é feita todos os dias.

Danadas e insubmissas, porque as palavras de Angela Davis são hoje ainda mais importantes, as de que “a liberdade é uma luta constante”, já que com o crescimento da extrema-direita e de um liberalismo individualista a luta nas ruas e nos movimentos sociais é ainda mais necessária. Com o 8 de março a chegar é importante reforçar a importância de estarmos todas e todos em conjunto a marcar presença nas ruas, nos diferentes pontos do país, com gritos de luta contra a precariedade e a violência que nos tem uma cara familiar. Sair enquanto protesto perante um sistema patriarcal e capitalista que nos quer submissas a ele.

Fazer a luta nas ruas sempre foi sinónimo de resistência, e o 8 de março simboliza essa mesma forma de protesto e de mostrar como não estamos conformadas. Todos os anos ouvimos a pergunta “qual ainda a importância de sair à rua no 8 de março?”. Porque continuamos a viver numa sociedade machista e patriarcal que sobrevive com a desigualdade e violência do outro. Estes dois últimos anos de pandemia vieram reforçar a importância do feminismo nas vidas de cada uma de nós, uma vez que aquelas e aqueles que mais sofreram com ela foram as que já se encontravam em posições de maior vulnerabilidade. Aqui lembramos as mulheres trabalhadoras, as cuidadoras informais, as mulheres rurais, as mulheres LGBTQ, as mulheres trans, as que se encontram em situação de sem abrigo, as mulheres racializadas e as precárias. Por nós e por elas combatemos o vírus do patriarcado.

É então importante mobilizar e agir, transformar aquelas que são as nossas dores e lutos em luta reivindicativa. Mas este ano o grito de chamada para as ruas serve também o propósito de fazer barulho por todas as mulheres, crianças, pessoas LGBTQIAP+ e racializadas que se encontram na Ucrânia. É também a elas que prestamos homenagem e solidariedade, pois sabemos que em situações de conflito quem mais sofre é quem não é tido em conta na sociedade.

Ser feminista é olhar o mundo com uma lente interseccional, é ser-se antirracista, antifascista, anticapitalista, e contra o imperialismo, seja este em que parte do mundo for. É reivindicar por uma sociedade verdadeiramente feminista, que quebre o conservadorismo e a misoginia que se vive em casa, no local de trabalho e nas ruas. Esta é a chamada para que no dia 8 estejamos todas juntas a fazer-nos ouvir, onde não faltem abraços de força, de saber que não estamos sozinhas. Somos danadas, somos insubmissas, sabemos que os nossos direitos não são dados adquiridos, que não se pode ser feminista sem lutar pela liberdade, e que esta luta é feita todos os dias.

Beatriz Realinho
Sobre o/a autor(a)

Beatriz Realinho

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais. Ativista política e das causas LGBTQIAP+, ambientais e feministas. Autora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”
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