O dia 17 de Junho de 2013 fica marcado por uma das maiores greves de professores de sempre no país – seguramente com um adesão superior a 90% - mas também pelo caos instalado nas escolas devido à irresponsabilidade do governo.
Perante a decisão do tribunal arbitral de não decretar serviços mínimos para a greve geral de professores em dia de exame nacional de português, Nuno Crato armou-se em chico-esperto. Em vez de acatar a sugestão do colégio arbitral de mudar o exame para dia 20, data em que tinha todas as garantias legais de que não poderia ser marcada nova greve e de que o exame decorreria com toda a tranquilidade e rigor, optou pela lógica do confronto e manteve a data do exame. Julgava o Ministro que convocando dez vezes mais professores do que os necessários para garantir a realização dos exames, estes aconteceriam com toda a normalidade e marginalizariam os efeitos da greve. Mas saiu-lhe o tiro pela culatra. E não era difícil adivinhar que se espalharia ao comprido: já a gigantesca manifestação de sábado prenunciava uma grande greve no dia do exame. O resultado foi que dos 75 mil alunos que deveriam ter realizado a prova, mais de 20 mil não o conseguiu fazer. Bastava ao Ministro a presença de um em cada dez professores que chamou às escolas para garantir todos os exames. Mas ficou longe de o conseguir, graças a uma fortíssima adesão à greve.
Quem já esteve envolvido na organização, vigilância e realização de exames nacionais sabe como é tudo programado ao segundo e ao milímetro. Há reuniões de preparação para vigilantes, há um secretariado de exames a funcionar várias semanas antes, há uma logística extremamente rigorosa em todo o processo e um conjunto de regras estritas a serem cumpridas por professores e alunos antes, depois e durante.
Mas desta vez valeu tudo: professores sem experiência a garantir em cima do acontecimento as tarefas complexas dos secretariados de exames, formadores (não docentes) a vigiarem salas, diretores a distribuírem enunciados à pressa, provas realizadas em ginásios ou refeitórios (quando o limite por sala é de 15 alunos), ausência de professores coadjuvantes (cuja missão é o esclarecimento de dúvidas ou a resolução de problemas junto do júri nacional de exames), atrasos na hora de início da realização dos exames, alunos que saíram da sala antes da hora prevista, invasões de salas por alunos que se sentiram injustiçados por não poderem realizar o exame, salas à porta fechada, telemóveis a tocar em muitas salas. E onde estavam os inspectores-gerais da educação que tão zelosamente visitam diversas escolas à procura da mínima ilegalidade? Desta vez, ninguém deu por eles. Muito provavelmente, foram os únicos diretamente incentivados pelo governo a fazerem greve neste dia.
O Ministro da Educação que fez do rigor a sua imagem de marca veio ainda assim congratular-se pela realização de muitos exames nestas condições caóticas. Mostrou que está mais empenhado em quebrar a espinha aos professores do que em garantir toda a tranquilidade aos alunos na realização das provas nacionais. E não conseguiu nem uma nem outra coisa. A greve foi gigantesca e as consequências estão à vista, com pais e diretores a exigirem a anulação das provas realizadas.
Importa recordar os motivos desta greve. Em final de Maio o governo apresenta a sua proposta de mobilidade especial (vulgo despedimentos) e do aumento do horário de trabalho das 35 para as 40 horas, deixando apenas duas possibilidades de resposta aos professores: ou fazer greve em altura de avaliações e exames ou fazer greve às férias. Acreditava o Ministro que estaria a encurralar os docentes, consciente do quão delicado era avançar para uma greve deste tipo, em termos de gestão da opinião pública. Mas a granada que atirou para o lado dos professores, deu meia-volta e rebentou-lhe nas mãos.
Não há professores a mais mas sim escola a menos. O número de alunos por turma é exagerado e faltam recursos para combater o abandono e o insucesso escolares. O governo quer despedir ainda mais docentes (não só precários mas também do quadro), deslocá-los mais de 200 km da sua área de residência, e aumentar-lhes o horário de trabalho, passando as horas das direções de turma para a componente não lectiva. Tudo isto prejudica os alunos que terão menos professores, e professores menos disponíveis e menos motivados. É a qualidade da escola pública que está também em causa. Por isso, esta luta é prolongada. Começou no dia 7 de Junho - com greves diárias que têm paralisado mais de 95% dos conselhos de turma de avaliação - e não tem data marcada para terminar.