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Confronto, sempre que possível. Mesmo quando temos medo

Hoje o medo é a condição pacífica e permanente de aceitação de todas as brutalidades e injustiças no local de trabalho e nas relações sociais com as entidades públicas e privadas.

Uma das características mais facilmente reconhecidas numa sociedade sob um regime ditatorial é o medo. O controlo e a apatia social eram garantidas através do exemplo sobre o que podia acontecer a quem falasse, a quem organizasse, a quem fizesse, ou às vezes... só pensasse. O extermínio do debate é condição essencial para a estabilidade política e social, imposta, claro.

Hoje o medo é a condição pacífica e permanente de aceitação de todas as brutalidades e injustiças no local de trabalho e nas relações sociais com as entidades públicas e privadas.

Hoje, a esquerda e as pequenas organizações (mesmo as mais pequenas), lidam com a necessidade de criar uma cultura de confronto mesmo quando o medo está presente. Nas organizações do trabalho, da escola, da rua… o funcionário tem medo, o colega tem medo, quase todos têm medo... Medo de nada, às vezes. Medo que do outro lado alguém faça cara feia, medo que do outro lado alguém levante a voz… às vezes nada a perder, mas essencialmente, medo do confronto. Uma cultura.

Mas como o vencemos o medo se de facto há quase sempre alguma coisa a perder e o risco é de facto, real?

A desestruturação da resposta possível, organizada, de setores populares ou de esquerda foi largamente conseguida, e portanto as organizações que poderiam disputar a política de um país, não têm força orgânica para nada de relevante. Os trafulhas que se organizam nos grandes partidos e nos seus tentáculos de poder dispensaram por isso as polícias políticas e os bastões.

Mas por outro lado, sucederam-se, desde o último governo do PS (inclusive), várias notícias de ajustes de contas das administrações públicas ou privadas a quem tivesse a audácia de criticar publicamente os modelos políticos aplicados. Uma das últimas notícias (publicada aqui) sublinhou a forma pidesca como os capangas colocados a liderar instituições europeias (Fundação para a Ciência Europeia) e nacionais (FCT) não toleram a liberdade de expressão ou o enfrentamento público de opinião.

Os Salgado, os Ricciardi, os Américos Amorim, colocaram trafulhas, organizados nas seitas do PSD, PS e CDS, nos vários governos, e estes por sua vez fizeram a colocação de capangas a liderar as instituições públicas e privadas para conter qualquer esperança, qualquer debate, qualquer possível imagem de energia no confronto com o poder.

Eles têm bem identificado o seu inimigo: o cidadão comum. Por isso uma das principais tarefas da esquerda é lutar contra o medo (dentro de si própria) e criar a cultura do confronto… mesmo quando temos medo.

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Engenheiro informático
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