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Com fúria e raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo/ E o seu capitalismo das palavras.*

Eis, nas palavras de Sophia, o sentimento de quem vê o salário esvair-se em dízimas forçadas.

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada/ Que de longe muito longe um povo a trouxe/ E nela pôs sua alma confiada.

Acusamos aqueles que prometeram alívio no sacrifício, mas logo esqueceram a palavra dada.

De longe muito longe desde o início/ O homem soube de si pela palavra/ E nomeou a pedra a flor a água/ E tudo emergiu porque ele disse.

Acusamos os que esqueceram a natureza da nossa esperança coletiva e só emergem os obscuros interesses da finança corrupta. Acusamos os que escravizam quem vegeta e expulsam da nossa terra as sementes do futuro.

Com fúria e raiva acuso o demagogo/ Que se promove à sombra da palavra/ E da palavra faz poder e jogo/ E transforma as palavras em moeda/ Como fez com o trigo e com a terra.

Acusamos os insaciáveis da miséria e que nos pretendem burlar com a sua inevitabilidade, apresentamos alternativa. Acusamos os que retiram o pão da boca de tantos para salvar o fausto milionário de tão poucos, exigimos rasgar o memorando. Acusamos os que nos ameaçam com represálias maiores se não nos sujeitarmos ao crescendo da tirania, o medo não garante pão na mesa. Acusamos os que nos querem roubar a nossa dignidade humana, enfrentamo-los. Não! Não desistimos!

Acusamos e recusamos. Dia 14 estaremos na greve geral!


* ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. “Com Fúria e Raiva”, in OBRA POÉTICA, Caminho 2010.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Energia e Águas de Portugal, SIEAP.
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