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Cidadãs: uma longa caminhada
Os escritos feministas de sua autoria alcançaram enorme audiência. Foi defensora da democracia e dos direitos das mulheres. Na sua obra Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (em francês: Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne) de setembro de1791, desafiou a conduta injusta da autoridade masculina e da relação homem-mulher que se expressou na Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão durante a Revolução Francesa. Devido aos escritos e atitudes pioneiras, foi executada.
Marie Gouze nasceu numa família pequeno-burguesa. O seu pai era talhante, sua mãe lavadeira.
Em 1774, escreveu uma peça de teatro anti-esclavagista: L'Esclavage des Nègres. Pelo facto de ter sido escrito por uma mulher e de na altura ser considerado tema controverso, a obra só foi publicada em 1789, no início da Revolução Francesa. Mesmo assim, Olympe demonstrou a sua combatividade na luta incessante, porém sem sucesso, pela encenação da peça. Ao mesmo tempo, escreveu obras feministas relacionadas com temas dos direitos ao divórcio e às relações sexuais fora do casamento.
Como apaixonada advogada dos direitos humanos, Olympe de Gouges abraçou com entusiasmo e alegria a deflagração da Revolução. Mas logo se desencantou com a constatação de que a égalité (direitos iguais) da Revolução não incluía as mulheres no que se refere à igualdade de direitos.
Em 1791 aderiu ao Cercle Social - uma associação cujo objetivo principal era a luta pela igualdade dos direitos políticos e legais para as mulheres. Reunia-se na casa da conhecida defensora dos direitos das mulheres Sophie de Condorcet. Foi aí que Olympe expressou pela primeira vez a sua célebre frase: "a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de subir à Tribuna".
No mesmo ano, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ela escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Logo depois, escreveu o Contrato Social, nome inspirado na famosa obra deJean-Jacques Rousseau, propondo o casamento com relações de igualdade entre os parceiros.
Os Jacobinos não estavam dispostos a tolerar a defesa dos direitos das mulheres: mandaram para o exílio Sophie de Condorcet. Em 3 de novembro de 1793, guilhotinaram Olympe de Gouges.
(Dados biográficos obtidos na WIKIPÉDIA, artigo em português: Olympe de Gouges).
Nota: O espetáculo a que assistimos recentemente no Parlamento português, com o chumbo da proposta do Bloco de Esquerda para alterar o nome do Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania, foi lamentável. A posição do PCP e dos partidos de direita foi triste. A exaltação dos cronistas do sistema foi de uma agressividade estranha. A história de Olympe de Gouges recorda-nos, passados cerca de 150 anos, que a luta pelos direitos sem exclusões é interminável.
Artigo publicado no jornal “Setubalense” em 4 de maio de 2016
Comentários
Um artigo que faltava.
Um artigo que faltava.
Entre todas as vozes que pretenderam amesquinhar a proposta do Bloco a que me tocou mais por ser de quem é foi a de Lídia Jorge: «De vez em quando aparecem assim umas propostas que parecem pequenas quezílias. Isto não resolve qualquer problema, porque cidadania tem outro sentido». Que sentido, pergunta-se.E responde-se:« cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um país.» Para homens e mulheres iguais em direitos e deveres, etc., nos dias de hoje. Cidadão e Cidadã são-no porque sujeitos desses direitos e deveres (até Olympe de Gouges era certamente tratada por cidadã, pelos vistos desde que não implicasse direitos iguais aos dos homens)
Ainda Lídia Jorge: «A mim não me faz confusão absolutamente nenhuma. Parto sempre da ideia que a língua não é um sistema lógico puro e que há uma herança milenar. Quando pego no meu cartão de cidadão, sinceramente, não tenho a mais pequena ideia que me esteja a ofender»
Lídia não se ofende, tudo bem: trata-se de uma herança milenar imposta por um milenar domínio dos homens, na sociedade milenarmente patriarcal que na sua Grande Revolução mãe de todas as revoluções modernas (se acharmos que a americana não terá ido tão fundo embora precursora) guilhotinou uma mulher por defender a revolução também para as mulheres.
Claro que a "língua não é um sistema lógico puro", ou seja não funciona por axiomas. Os únicos axiomas são a humanidade e a natureza.
O Bloco defende as conquistas históricas da democracia e dos direitos dos humanos na evolução da sociedade humana. Lídia Jorge também questionou a alteração da Declaração Universal dos Direitos do Homem - designação milenar para a humanidade - para Declaração Universal dos Direitos Humanos?
Um abraço Jaime Pinho
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