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Cidadãs: uma longa caminhada

Olympe de Gouges, pseudónimo de Marie Gouze, nasceu em França no ano de 1748. Foi feminista, revolucionária, escritora de peças de teatro.

Os escritos feministas de sua autoria alcançaram enorme audiência. Foi defensora da democracia e dos direitos das mulheres. Na sua obra Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (em francês: Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne) de setembro de1791, desafiou a conduta injusta da autoridade masculina e da relação homem-mulher que se expressou na Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão durante a Revolução Francesa. Devido aos escritos e atitudes pioneiras, foi executada.

Marie Gouze nasceu numa família pequeno-burguesa. O seu pai era talhante, sua mãe lavadeira.

Em 1774, escreveu uma peça de teatro anti-esclavagista: L'Esclavage des Nègres. Pelo facto de ter sido escrito por uma mulher e de na altura ser considerado tema controverso, a obra só foi publicada em 1789, no início da Revolução Francesa. Mesmo assim, Olympe demonstrou a sua combatividade na luta incessante, porém sem sucesso, pela encenação da peça. Ao mesmo tempo, escreveu obras feministas relacionadas com temas dos direitos ao divórcio e às relações sexuais fora do casamento.

Como apaixonada advogada dos direitos humanos, Olympe de Gouges abraçou com entusiasmo e alegria a deflagração da Revolução. Mas logo se desencantou com a constatação de que a égalité (direitos iguais) da Revolução não incluía as mulheres no que se refere à igualdade de direitos.

Em 1791 aderiu ao Cercle Social - uma associação cujo objetivo principal era a luta pela igualdade dos direitos políticos e legais para as mulheres. Reunia-se na casa da conhecida defensora dos direitos das mulheres Sophie de Condorcet. Foi aí que Olympe expressou pela primeira vez a sua célebre frase: "a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de subir à Tribuna".

No mesmo ano, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ela escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Logo depois, escreveu o Contrato Social, nome inspirado na famosa obra deJean-Jacques Rousseau, propondo o casamento com relações de igualdade entre os parceiros.

Os Jacobinos não estavam dispostos a tolerar a defesa dos direitos das mulheres: mandaram para o exílio Sophie de Condorcet. Em 3 de novembro de 1793, guilhotinaram Olympe de Gouges.

(Dados biográficos obtidos na WIKIPÉDIA, artigo em português: Olympe de Gouges).

Nota: O espetáculo a que assistimos recentemente no Parlamento português, com o chumbo da proposta do Bloco de Esquerda para alterar o nome do Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania, foi lamentável. A posição do PCP e dos partidos de direita foi triste. A exaltação dos cronistas do sistema foi de uma agressividade estranha. A história de Olympe de Gouges recorda-nos, passados cerca de 150 anos, que a luta pelos direitos sem exclusões é interminável.

Artigo publicado no jornal “Setubalense” em 4 de maio de 2016

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