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A caminho da Jordânia
Mais uma vez, as minhas funções no Parlamento passam por estar neste lado do mundo. Na terça-feira realizam-se eleições e fui convocada para a missão de observação eleitoral. Poucos países enfrentam desafios tão grandes como estes nesta região. A guerra mesmo ao lado, os refugiados que continuam a entrar todos os dias, a falta de água, de casas, dos mínimos de dignidade para tanta gente. Um país a fazer um esforço imenso para responder à crise.
Estas são eleições históricas. A lei eleitoral mudou, há mais eleitores (passam a poder votar os maiores de 17), há cerca de 40 partidos a concorrer.
Fala-se muito na Jordânia como o país mais estável da região.
Levo comigo toda a responsabilidade que me foi conferida, mas também a expectativa de que tudo vai correr bem, que vai ser um processo eleitoral mais amplo, mais participado, com mais gente a querer decidir sobre o seu futuro.
Presidir, no quadro do Parlamento Europeu, às relações da União Europeia com a Síria, o Egipto, o Líbano e a Jordânia tem sido, nos últimos anos, uma tarefa difícil, complexa, muitas vezes frustrante. Tem sido o olhar nos olhos a hipocrisia e a injustiça, mas também a dignidade e a capacidade infinita de lutar pela vida. Tem sido uma das tarefas que todos os dias me faz aprender e desafia a minha visão do mundo. Tem sido tudo isso e a pergunta permanente sobre os limites da nossa acção.
No Parlamento Europeu, dedico-me a cada uma das tarefas sempre com o mesmo empenho, seja na defesa de um projecto comum justo, na defesa do nosso país, ou na defesa de relações de cooperação internacional que sejam de cooperação e não de negócios que sobrepõem a vidas. Mas, se em outras áreas de trabalho tenho de enfrentar posições diferentes e lidar com a mais que bem vinda diversidade democrática, nesta função em concreto lido muitas vezes com raiva, preconceito, racismo.
Há muitos muros (reais e políticos), há egoísmos e, muitas vezes, arrogância. Há também solidariedade superação, sempre.
Para quem já está a preparar os comentários sobre os 'passeios' ou sobre haver tantos problemas a resolver em Portugal e eu - ainda que tenha obrigação institucional de fazê-lo - 'ando supostamente a perder tempo com os outros', fica já a resposta: estes são problemas de todos/as nós, dizem muito de nós, temos responsabilidades neles, e as lutas não se anulam umas às outras, complementam-se.
Não têm de concordar, mas o racismo, a xenofobia e a superioridade 'civilizacional' não são aqui bem vindos.
Até breve.
Publicado na página de Marisa Matias no facebook
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