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Calimero: o ministro derrotado!

Este fim-de-semana o nosso ministro da Saúde fez-se passar por Calimero e encenou uma farsa que só o desespero e a desorientação podem justificar.

Depois de 6 meses em negociações com os sindicatos, depois de 6 meses a negar qualquer avanço na redefinição das carreiras médicas, depois de 6 meses em que, apesar da enorme pressão feita pelos sindicatos, sempre se recusou a lançar concursos para contratação de médicos, a apresentar propostas para uma grelha salarial e pela calada abria a porta ao negócio das empresas de trabalho temporário no SNS - eis que em pouco mais de 3 dias vem para a comunicação social prometer tudo e mais alguma coisa que nunca fez nesses 6 meses.

Mas desenganem-se os desatentos porque tudo não passou de promessas e promessas leva-as o vento. Em todos os documentos que apresentou à Ordem dos Médicos e aos Sindicatos nunca assumiu a determinação de cumprir com as reivindicações dos médicos, propunha apenas operações de cosmética, mantendo sempre os concursos para aquisição de horas médicas a granel e nunca se comprometendo com um calendário negocial concreto e com uma proposta de grelha salarial concreta. Ainda assim sentiu necessidade de vestir a casca de ovo do Calimero e fechar-se num domingo à tarde no Ministério, à espera das delegações sindicais que sempre o informaram que não iriam estar presentes. Grande número mediático, grande coragem para chorar no ombro dos jornalistas, qual princesa abandonada pelo seu cavaleiro andante.

Toda esta encenação hipócrita só tem uma justificação: o ministro está aterrorizado porque sabe que a greve vai ser grande! A greve dos médicos vai sacudir o ministério, porque é a primeira em 20 anos, porque resulta de um amplo consenso entre os profissionais, porque é apoiada por todas as estruturas que representam a classe profissional, porque ao contrário do que desejaria Paulo Macedo, vai ter o apoio maciço dos utentes do SNS e porque é a greve que vai travar a precariedade entre os médicos que este quer impor como regra! Vai ser a greve mais importante dos últimos anos em Portugal, por tudo isto e, sobretudo, porque vai sair vitoriosa. No dia a seguir à greve o SNS vai estar mais forte e protegido, o campo da austeridade e da troika vai sofrer um recuo brutal na saúde e a democracia e o Estado Social vão estar uns passos mais à frente na resistência contra a sua destruição.

No dia 11 haverá uma concentração de médicos na rua em frente ao ministério. Todos usaremos as batas bancas de todos os dias, todos estaremos prontos para demonstrar a força de uma ideia: a ideia de um serviço público de saúde, de elevadíssima qualidade e alto rendimento. Estaremos muitos, de gente de esquerda a gente de direita, dos mais velhos aos mais jovens, de Chaves a Faro, de médicos de família a cirurgiões plásticos, de sindicalistas a dirigentes da Ordem, dos mais anónimos clínicos aos mais conceituados ex-governantes da direita e da esquerda. Todos juntos, unidos por esta ideia! E do lado de lá um ministro isolado, só, com 2 secretários de Estado patéticos e a casca do ovo na cabeça.

A greve e a manifestação dos médicos desta semana serão grandes, serão enormes! E no final só um resultado pode existir: o ministro vai sair e levará com ele a política derrotada de precariedade e privatização. O SNS vencerá!

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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