Está aqui
As bolsas e o triunfo dos idiotas
Segunda-feira negra, com a Bolsa de Xangai a cair 8,5%. Mais uma “inesperada” bolha a rebentar nos mercados financeiros. E não é que vêm por aí abaixo: a bolsa de Lisboa a cair 4%, a bolsa de Atenas 4,3%, a de Frankfurt 3,2%, a de Tóquio 5%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones caiu 3,1% e o Nasdaq 3,5% e o ASX 3,7% na Austrália ? Os idiotas continuam a triunfar, dia após dia. Em 2008 a banca e a finança, libertadas de quaisquer constrangimentos por Reagan e Thatcher e os seus sucessores, produziu a maior crise financeira desde 1929, atirando o mundo para uma depressão global, ainda longe de ter acabado.
Apesar disso, os idiotas que lançaram o mundo para o abismo receberam ainda mais liberdade, com mais desregulamentação. Há que agradecer a Merkel, a Draghi, a Obama, a David Cameron, a Sarkozy e a Hollande, a Xi Jinping e Hu Jintao por mais uma vitória retumbante da idiotice como paradigma mundial. E uma vez mais os idiotas atiram-nos para o desconhecido.
Não chega estarem a arruinar o planeta, tornando-o crescentemente inviável para as gerações futuras, com as alterações climáticas. Não chega fomentarem milhentas guerras, patrocinarem o terrorismo dizendo que estão a combater o terrorismo. Não chega empurrarem os mais pobres para longe depois de terem promovido guerras, secas, saques e ditaduras nos seus países de origem e depois acusarem quem os transporta de ter a culpa. Não chega erguerem muros e arames farpados para fechar a miséria que provocam. Não chega destruírem gerações inteiras com pensões de miséria, desemprego e precariedade. Não chega.
A culpa é das vítimas?
Ainda nos dizem, os idiotas e os seus campeões, que a culpa é das vítimas da sua idiotice. Uma das principais ferramentas ao serviço dos estúpidos é a dívida. Dos 59.700.000.000.000 dólares de dívida mundial, 59,7 biliões de dólares, o primeiro devedor são os Estados Unidos, responsável por 29,05% do total, seguidos do Japão com 19,9%, a China com 6,25%, a Alemanha com 4,81%, a Itália com 4,61%, o Reino Unido com 3,92%, o Canadá com 2,7%. Longe, só muito longe é que vêm as vítimas da dívida, cuja crucificação nada tem que ver com a mesma: Portugal com 0,49% da dívida mundial, a Grécia com 0,71%, a Bélgica com 0,92%, a Turquia com 0,5% ou a Espanha com 2,15%.
Recuando mais, olhamos para as grandes vítimas históricas dos ajustamentos estruturais e as suas dívidas não valem nada: a América Latina, a África subsahariana, a Ásia. Os idiotas conseguem, nos momentos de maior fragilidade, transformar os países frágeis em estados falhados, os países mais pobres em colónias. Parabéns. É a competitividade idiota.
Uma vez mais, na roleta russa do capitalismo estúpido, calhou bala. O problema é que o tiro sai, como sempre, na direcção daqueles que nada têm que ver com o jogo, aqueles que não quiseram e muitas vezes nem sabiam que estavam a jogar. Como é que os idiotas nos dirão que se volta a melhorar a situação? Da maneira de sempre: despedimentos, privatizações, precarização, cortes de salários e perda de direitos, de igualdade e de democracia.
E depois estranharão como não há ferramentas para combater as crises, quando o regime em que vivemos tem como características fundamentais a crise permanente e a estupidez hegemónica. Enquanto os idiotas mandarem, seremos estupidificados pela sua maneira infantil de ver o mundo e continuaremos a marchar para o precipício.
Artigo publicado em p3.publico.pt em 24 de agosto de 2015
Comentários
Se ao menos os inteligentes,
Se ao menos os inteligentes, como o aqui articulista, tomassem conta disto tudo, nos libertassem do consumismo acabando com as liberdades que o provocam...seríamos felizes para sempre.
Warren Buffett um dos mais,
Warren Buffett um dos mais, se não o mais, ricos do mundo, disse há tempos que"isto" é uma luta de classes e "nós" estamos a ganhá-la. O "aqui articulista" - com cujo artigo concordo - cometeu um erro: chamar-lhes idiotas. De facto não o são. Eles sabem que por mais tropelias que façam ficam sempre a ganhar enquanto a sua "narrativa" fizer vencimento como acontece com os muitos José Gonçalves que até se esquecem que isso do consumismo só diz respeito a uma ínfima fatia da humanidade e que o consumismo não é uma consequência da liberdade mas das limitações que lhe são impostas pela hegemonia dos critérios e "valores" determinados pelos interesses dos que controlam a finança, o poder político e limitam em seu proveito o acesso ao consumo responsável, ao conhecimento e à participação democrática. Mas... Como canta o Zé Mário Branco "eu vim de longe, eu vou pr'a longe,onde nós havemos de encontrar".
Seria interessante ver como
Seria interessante ver como um sistema comunista colocaria um fim a isto tudo, a desgraça humana nunca vista, ou já mas com o devido distanciamento.
Vamos lá ver os EUA são o grande santanas, certo?
A RPC já foi um pais do lado dos bons, já não é... certo?
quem nos sobra como exemplo Coreia do Norte? sim é um pais progressista onde a população do seu proprio pais esta a atingir o nirvana socialista.
isto tudo foi pelo cano quando um presidente democrata na decada de 2000 abriu completamente as portas, sim um democrata. Esta na altura de se propor coisas concretas, que não sejam tudo dentro do estado nada fora do estado sff.. obrigado
Para o deputado, para Mario
Para o deputado, para Mario Tome e para as Marianas e as Catarinas sem esquecer o inefável FLouca ( o homem que abandonou o BE quando percebeu que estava prestes a bater na parede) nao dispenso duas perguntas : a)qual é a vossa proposta para mudar este estado de coisas? E b) como podemos acreditar que a vossa proposta produz o desenvolvimento que aquela a que aqui atribuem todos os males do mundo, mas que proporcionou o maior desenvolvimento e melhores condições de vida para a maioria da humanidade?
As experiências da URSS/RPC/Coreia do Norte passando pelo Cambodja até a Venezuela de hoje sabemos o que custou e custa também em vidas humanas. As promessas de Tsipras, Iglesias e as réplicas caseiras, também todos percebemos que são produto de quem vive no ócio e conforto das academias. Então o que fazemos/ escolhemos nós o Zé Povinho que vive "do trabalho nas empresas, sem o distanciamento dos previligiados" perante estas alternativas ?
Adicionar novo comentário