Algumas diferenças entre as candidaturas de Jorge Sampaio e António Costa

porFrancisco Louçã

13 de julho 2009 - 0:00
PARTILHAR

António Costa apresentou a 13 de Julho a sua candidatura à Câmara de Lisboa, aliás já muitas vezes anunciada e confirmada. No mesmo dia, um grupo de defensores de um apelo para a "convergência das esquerdas", com forte protagonismo da Renovação Comunista, declarou que o apoiaria, como se esperava (embora os signatários do apelo sempre tivessem jurado recusar tal possibilidade, que agora se concretizou). José Saramago juntou-se aos apoiantes de Costa. E a sua candidatura fez publicar na imprensa uma história fantasiosa acerca de tentativas antigas e novas de acordo com o PCP e com o BE.

Vale por isso a pena discutir porque é que a configuração da disputa em Lisboa é como é. E uma das razões mais evidentes está na diferença entre as candidaturas de António Costa, que separa, e a de Jorge Sampaio, que uniu.

Quando Jorge Sampaio se candidatou a Lisboa, há vinte anos, era o dirigente de um partido de oposição. Não representava o poder político, nem apoiava o Código do Trabalho, nem tinha colaborado com a perseguição à escola pública, nem tinha fechado os olhos perante o corte ao subsídio de desemprego. Ajudava a mobilização contra a maioria absoluta de Cavaco Silva. António Costa em 2009 é o contrário de Jorge Sampaio em 1989.

Quando Jorge Sampaio se candidatou a Lisboa, fez um esforço para juntar pessoas mobilizadas por um programa concreto para tirar a cidade da letargia. Arquitectos, urbanistas, activistas sociais e diversas opiniões políticas juntaram-se durante largos meses para pensar ideias, para definir propostas, para mostrar e aprofundar essa alternativa. Não fez um apelo a um arranjo eleitoral sem ideias, a três semanas do prazo de apresentar as candidaturas. Era um acto de  coragem e ousadia, não era um acto de desespero.

Quando Jorge Sampaio se candidatou a Lisboa, fez um cuidado trabalho de aproximação entre diferentes partidos. Não foi para um Congresso do PS insultar outro partido, chamando-lhe "parasita". Com parasitas não se fazem coligações.

Quando Jorge Sampaio se candidatou a Lisboa, juntou o melhor da cidade para as melhores ideias e para a maior transparência. Não criou uma lista para ter que se envergonhar com a investigação judicial à concessão sem concurso do terminal de contentores de Alcântara à empresa de um amigo do governo e do partido.

Mas, acima de tudo, o problema da actual maioria da Câmara é que não fez. Não lançou o debate do PDM. Não aplicou a prometida regra dos 25% de construção a custos controlados nas novas urbanizações. Não defendeu a frente ribeirinha. Não pôs um travão à especulação. Não interveio na política de habitação. Não reestruturou os transportes e deixou-se afastar do Metropolitano. Não defendeu o espaço público e antes introduziu o aluguer de praças e avenidas a marcas e a empresas. Calou e consentiu. O problema desta maioria é que falhou.

Por isso, é por causa de Lisboa, de um programa para Lisboa, de uma política para Lisboa, que é necessária uma alternativa. E essa alternativa é a candidatura do Bloco de Esquerda, com Luis Fazenda. É tempo de termos uma esquerda de confiança na Câmara.

Bem sei que, no desespero do fracasso, há sempre quem exija votos com o argumento triste: se estás em desacordo com o que o PS fez, vota no PS para continuar a fazer o que te desagrada, porque o PSD é igual. Há quem não consiga conceber o mundo sem ser sob a batuta do PS ou do PSD. Há quem pense que, no dia em que o PS e o PSD deixarem de ser os partidos maioritários, o trigo cresce para dentro do chão e o sol se recusa a levantar cada manhã. Desejo as maiores felicidades a estes apoiantes do bloco central, porque a vida não está fácil para eles.

Francisco Louçã
Sobre o/a autor(a)

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
Termos relacionados: