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Aguentem-se

A revisão constitucional do PSD torna-se hoje e apenas hoje uma revisão definitiva da revisão provisória de há algumas semanas atrás.

Comunicação em política é realmente difícil de gerir. Dá uma certa ilusão de que quando se mete a pata na poça é possível inventar outra história. Há limites. A revisão constitucional do PSD torna-se hoje e apenas hoje uma revisão definitiva da revisão provisória de há algumas semanas atrás. É um pouco confuso mas toda a gente entendeu bem o processo. Passos Coelho decidiu em Julho propor aquilo que realmente queria fazer quando chegasse ao governo e foi rapidamente posto na ordem pelos magos políticos, que pululam pelo seu partido. Esses até aceitam fazer o mesmo que Passos, mas acham melhor não dizer nada para não alarmar o eleitorado. Passos Coelho entendeu a lição, basta substituir algumas palavras. Sob a nova proposta os despedimentos são justificados por “razão atendível” em vez de “justa causa” e, há uma nova benesse, sob o PSD o “Estado garante a protecção a pessoas despedidas sem justa causa”. É elegante. Um patrão passa a ter a razão, logo justa causa, sempre que quiser despedir e o Estado por sua vez só apoia o desempregado se o patrão decidir que afinal não tinha razão em despedir. É uma espécie de “não me venham dizer que não tentámos” proteger os desempregados. Afinal a intenção é que conta.

Passos Coelho resume-se a tentar mudar o significado das palavras, retirar-lhes força e significado. É assim que passo a passo se transforma um pobre num criminoso e um desempregado num subsídio-dependente. Uma nano-política das palavras que o torna merecedor do mesmo desprezo político que Sarkozy recebe.

Mas Passos Coelho quer mais, quer repor a verdade. Aparentemente alguma comunicação social andou estas semanas a subverter o significado da proposta de revisão constitucional do PSD que afinal era apenas um ante-projecto que afinal ainda tinha de ser entregue pelo relator, Paulo Teixeira Pinto e, que afinal tinha ainda de ser aprovado pelos órgãos internos do partido. Não havia por isso nenhuma razão para achar que as afirmações oficiais do líder do PSD eram válidas, antes pelo contrário. Agora é que é.

Este é aliás um padecimento que as sucessivas lideranças do PSD não conseguem evitar. Santana Lopes queria ser levado a sério, Menezes idem, Ferreira Leite tinha lapsos anti-democráticos e Passos Coelho simplesmente não tem credibilidade.

Aguentem-se.

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na FLUL, Investigador do Centro de Estudos de Teatro/Museu Nacional do Teatro e da Dança /ARTHE, bolseiro da FCT
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