Afeganistão: 9 anos depois

porRicardo Robles

10 de outubro 2010 - 11:22
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Passados 9 anos sobre a invasão do Afeganistão nenhum dos objectivos da lista de intenções de Bush foi conseguido.

No dia 7 de Outubro de 2001, um mês depois dos ataques às torres gémeas, G.W.Bush declarava guerra ao Afeganistão. A vingança americana reclamava a cabeça de Bin Laden e a neutralização das forças talibã, e assim, aniquilar a Al-Quaeda. O ataque anunciava-se contundente e espectacular.

Passados 9 anos sobre a invasão do Afeganistão nenhum dos objectivos da lista de intenções de Bush foi conseguido. O inimigo nº1 dos E.U.A continua algures na sua gruta, os talibãs estão com uma capacidade militar incrível e crescente e a Al-Quaeda tornou-se um franchisingglobal de terror.

Não foram atingidos aqueles objectivos, porque não o eram na realidade. A excepção, e que não é de menor importância, foi a substituição do regime dos “estudantes de teologia” liderado pelo Mullah Omar por um homem de confiança dos neoconservadores americanos, Hamid Karzai.

Tudo o resto são falhanços encadeados que permitem a comparação do Afeganistão com o atoleiro americano no Vietname. As forças militares que integram a operação sofreram até Outubro deste ano 2134 mortos, sendo 2010 o ano mais letal desde o início da ocupação. A contabilidade dos mortos civis entre a população afegã continua a ser a grande incógnita, porque este mórbido número não interessa nem a Karzai nem a Obama. O general Tommy Franks que liderou o ataque em 2001 dizia “We don´t do body counts”.

As forças talibãs têm cada vez mais capacidade operacional e poder de ataque. Multiplicam-se os ataques a colunas militares e a quartéis e abates de helicópteros. Só na primeira semana de Outubro foram incendiados mais de 100 camiões de abastecimento às tropas da NATO.

Após quase uma década de guerra, o Afeganistão é um estado falhado e com o futuro comprometido por várias décadas. O regime de Cabul, liderado por Hamid Karzai, reconhecido pelos observadores internacionais como resultado de uma gigantesca fraude eleitoral, comanda um dos países mais corruptos do mundo. A ONU estima que a economia do suborno equivale a 25% do PIB afegão. A produção e exportação de ópio voltou para os níveis anteriores à ocupação, sendo que um dos irmãos de Karzai está na liderança deste recurso natural do país. É o país do mundo com maior número de refugiados, 2.9 milhões. A ajuda internacional, grande parte proveniente das cimeiras de dadores, é dividida entre a corrupção do governo e a corrupção dos talibãs. Os direitos humanos no país continuam postos à margem, começando na violência extrema contra as mulheres e acabando nas prisões secretas dos E.U.A., como a de Bagram, nos arredores de Cabul, que mantém 645 presos durante anos sem julgamento, alguns menores de 16 anos.

O Afeganistão é um país destroçado pela guerra. Perante este cenário, Obama, prémio Nobel da Paz, mantém a estratégia de ocupação e reforça o orçamento de guerra de 2010 (533,7 mil milhões de dólares), que já bateu o recorde da história dos E.U.A., com mais 130 mil milhões dólares repartidos entre o Afeganistão e o Iraque.

Em Portugal, em tempo de austeridade, o governo Sócrates paga a factura dos submarinos e intensifica o investimento em mais cinco aviões militares em 2ª mão por 200 milhões de euros. Para a cimeira da NATO, em Novembro em Lisboa, comprou material anti-motim no valor de 5 milhões de euros. Sócrates define assim as suas prioridades.

Ricardo Robles
Sobre o/a autor(a)

Ricardo Robles

Engenheiro civil.
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