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Acabaram os exames. E agora andei a estudar para quê?
Esta pergunta tem sido difundida pelos meios de comunicação social desde o anúncio do fim dos exames do 4.º e 6.º anos. Como se o exame fosse um fim em sim mesmo, como se a aprendizagem e o papel das escolas dependessem, obrigatoriamente, de validações externas e lugares no ranking, como se não existissem outros meios de comprovar se os alunos aprenderam ou não as matérias. Em suma, como se toda a gente que fez o percurso escolar entre o 25 de Abril e o mandato de Nuno Crato fosse ignorante, incompetente e incapaz de aprender… e não a geração “mais preparada de sempre”.
Ninguém aprende mais por haver exames, mas estamos todos a aprender menos por causa deles. É necessário, sim, avaliar o sistema, ajustar programas e, principalmente, dotar as escolas de ferramentas para trabalhar a diferença e poder intervir precocemente quando uma criança demonstra dificuldades de aprendizagem
Por aqui se percebe que o problema mais grave destes exames não é serem mais um dos inúmeros testes com que as crianças são bombardeadas desde o 1.º ano ou o peso que tinham na avaliação final. O efeito mais perverso dos exames é alterarem toda a dinâmica educativa dentro e fora das salas de aula. De repente, não existem mais disciplinas, há apenas o português e a matemática, e aprender passou a ser “trabalhar para o exame”, seja ao logo de toda a escola primária ou dos dois anos do 2.º ciclo.
É natural a frustração de alguns alunos, a quem foi dito, durante praticamente toda a vida escolar, que o objetivo de todas as aprendizagens era a nota no exame. O que não é natural é que o processo de aprendizagem tenha sido tão viciado ao longo destes três anos, em que a escola se transformou num mero centro de treino. O que não é natural é que tenhamos, agora, de desconstruir a ideia de que sem exames não vale a pena estudar — até porque essa ideia só faz sentido numa sociedade que despreza o saber, a inteligência e a curiosidade.
Ninguém aprende mais por haver exames, mas estamos todos a aprender menos por causa deles. É necessário, sim, avaliar o sistema, ajustar programas e, principalmente, dotar as escolas de ferramentas para trabalhar a diferença e poder intervir precocemente quando uma criança demonstra dificuldades de aprendizagem.
Mas os exames estão nos antípodas desta necessidade, porque só diagnosticam o facto consumado, contribuindo para a mera reprodução (ou acentuação) das assimetrias sociais. Se a escola é mesmo para todos, e para todos aprenderem, e não só as matérias mas ainda como a serem cidadãos participativos, justos, solidários, críticos e integrados, os exames estavam mesmo a mais. Agora, temos de apagar o rasto de destruição e desmotivação que deixaram nas escolas.
Comentários
Infelizmente tenho que
Infelizmente tenho que comentar. Que enorme confusão é transmitida neste artigo. Andamos na escola para quê? Para adquirir capacidades, que nos permitam ser capazes de interpretar a realidade do dia a dia e também ser capazes de interferir positivamente nessa realidade. Os exames não poderão ser apresentados aos alunos como o objectivo para o qual trabalham. Quer seja pelos pais, quer seja pelos educadores, quer seja pelos políticos. Este artigo está abaixo do padrão de qualidade que deve ser expresso no ESQUERDA.NET.
Caro Álvaro, se ler o artigo
Caro Álvaro, se ler o artigo verificará que é frontalmente contra os exames e o seu título uma ironia motivada pelas diversas notícias que sairam em jornais que defendiam a sua continuação. Melhores cumprimentos, Rita Gorgulho.
Estás atenta o que é bom
Estás atenta o que é bom sinal. Mas por favor não te esqueças que o universo de leitores do esquerda.net não são só intelectuais classe média. Temos que escrever para gente simples, apresentando ideias claras, raciocínios simples e sequências fáceis de entender. É o que é exigível aos que tiveram a possibilidade de atingir uma formação diferenciada. Preocupa- te em melhorar a tua comunicação. Vais conseguir fazer melhor. Acredita !!!
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