2016

porLuís Monteiro

13 de janeiro 2016 - 0:24
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2016 será muita coisa. O futuro é sempre uma incógnita. Mas é a Humanidade que faz a sua própria história.

2015. Ano do maior corte no Orçamento de Estado para a Educação desde que somos Democracia. Ano do início do processo de ‘delegação de competência’ na área da educação entre o Estado e os Municípios. Ano do maior ataque ao Ensino Artístico em Portugal. Ano do aprofundar das dificuldades da gestão escolar com os mega agrupamentos. Ano em que mais professores ficaram sem emprego com a lei da ‘requalificação docente’. Ano em que os alunos do 4º ano sofreram na pele a injustiça dos exames. Ano em que a percentagem de bolsas de ação social com valor mínimo foi mais expressiva dos últimos anos letivos. Ano em que os investigadores e cientistas sentiram as suas vidas mais precárias do que nunca com as novas regras de atribuição de bolsas de FCT. Ano em que dezenas de milhares de recém-licenciados emigraram forçadamente para outros destinos europeus.

2016 será muita coisa. O futuro é sempre uma incógnita. Mas é a Humanidade que faz a sua própria história. E temos o dever de não deixar que a história se repita. O futuro desta geração não quer que o resto dos seus dias seja uma farsa. “A História repete-se, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa” Karl Marx

Desejos para 2016? Que seja o ano da Europa, para a Europa e para os europeus. Este Continente, mergulhado numa crise social sem precedentes, invadido por tecnocratas, mentirosos da verdade absoluta que trazem nos seus dossiers a Austeridade assassina, tem de ver em 2016 a luz da esperança, como se o infinito nos pudesse iluminar de novo.

A última audição que tivemos na Comissão de Educação no Parlamento, em 2015, foi com o Sindicato dos Inspetores de Educação. No final da sessão, o Presidente do Sindicato presenteou-nos a quadra natalícia com um convite á reflexão. Disse-nos ele, deixando a sala:

Há exames para escolas ou escolas para exames?”

Se levarmos à letra, então estamos prontos para analisar criticamente as consequências nefastas dos exames nacionais no 4º ano. E eu concordo com essa crítica e defendi a abolição dos mesmos. Mas podemos ir mais longe. Não devemos nós, fazer perguntas ao contrário? Não devemos nós, num novo ano, questionar a raiz dos problemas e não apenas as folhas que, podres, caem dos ramos das árvores?

Para que, por entre as árvores, consigamos olhar aquele infinito que vos falava acima, então não desistamos de regar as raízes e perceber que precisam de terra para crescer.

O objetivo comum em todas as minhas passagens de ano é fazer a Revolução. Às vezes, esquecemo-nos de falar da Revolução. Tenho para mim que a Revolução é a demonstração mais sublime de amor ao futuro que se pode ter. É isso. Falar do futuro é, então, falar de amor e de revolução. E hoje é o melhor dia para isso, porque o futuro é já daqui a uns minutos. Que 2016 signifique uma vontade de transformar a vida. Não queremos mudar de vida, queremos mudar a vida. Façamos então, como no Brasil, onde os estudantes de São Paulo festejaram o Ano Novo nas escolas ocupadas.

Artigo publicado em Academia de Política Apartidária no domingo, 10 de janeiro de 2016.

Luís Monteiro
Sobre o/a autor(a)

Luís Monteiro

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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