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2015 - Ano da Viragem

A viragem que Passos Coelho anuncia desde que tomou posse é mesmo tornar o país numa república das bananas por definição: totalmente dependente do exterior, fraco, subserviente, vazio, provinciano.

O ano da viragem que Passos Coelho anuncia todos os anos desde 2011 não é 2015. O Governo que mais emprego destruiu desde que há registos e que exilou mais de três centenas de milhares de pessoas, o governo que declarou guerra contra a sua população, não trará qualquer viragem a este país, apenas acelerará rumo ao precipício. A viragem que Passos Coelho anuncia desde que tomou posse é mesmo tornar o país numa república das bananas por definição: totalmente dependente do exterior, fraco, subserviente, vazio, provinciano. É a imagem deste governo, o espelho das pessoas que o compõem. Essa viragem começou há muito.

No centro do bipartidismo português não há viragens. O messianismo que rodeava António Costa há uns meses foi caindo e cada vez que o presidente da Câmara de Lisboa abre a boca mais se desvanece essa aura: Costa e o seu partido não têm nada de novo para oferecer ao país. Um discurso menos abominável daquele feito pelo atual governo é a sua única vantagem: a mesma dependência, fraqueza e subserviência vazia à Europa são a sua matriz. Olhando para o que os seus partidos irmãos, ditos socialistas, fizeram em França e Itália percebe-se que o PS tem no horizonte uma viragem de 360º. Renzi acenou a bandeira da “mudança” para implementar a precarização da sua população, com o infame ‘Jobs Act’, enquanto Hollande demorou menos de um ano a virar a “mudança” numa peregrinação de joelhos até Merkel. A escolha de mais um governo de centro não é uma “viragem”, e mostrará em Portugal aquilo que já mostrou nos outros países – a Europa da austeridade é a precariedade, o desemprego e a nova pobreza. A ascensão de um precariado massivo a nível europeu é a consequência direta das políticas deste centro da banca, das finanças e dos negócios, e transporta as sementes de importantes mudanças políticas, que em 2015 se poderão visivelmente materializar.

Uma importante viragem seria um alto cargo europeu ter que responder por aquilo que fez. Em 2015, Jean-Claude Juncker poderia vir a responder por ter transformado o Luxemburgo num paraíso fiscal e porta de entrada para mais de 300 multinacionais na Europa sem pagar impostos. Infelizmente não é expectável. O presidente da Comissão Europeia proporá mais investimento em empregos-lixo, estágios descartáveis e financiamento aos privados para empregar parte dos 24,4 milhões desempregados na UE. A qualidade do emprego e da vida destas pessoas não contam, quando o custo nominal da hora de trabalho da Europa cai desde 2009. Em vez de viragem, da UE virá a voragem.

Apesar de todas estas não-viragens, 2014 deu já um sinal do futuro, no ensaio-geral das europeias. Do campo progressista, o Podemos quebrou o centro do sistema partidário espanhol, na Irlanda o Sinn Fein subiu vertiginosamente e na Grécia o Syriza venceu as eleições. O partido grego prepara-se para se tornar governo este ano, depois de ter feito o PS local desaparecer. Do lado oposto, a vitória de direitas racistas e xenófobas como a Frente Nacional em França e o UKIP em Inglaterra mostram como a ausência de respostas leva os desesperados para o ódio. Este ano Espanha, Grécia e Reino Unido vão a votos e anunciam-se viragens.

No meio do turbilhão de uma União Europeia sociopata estão dezenas de milhões de precários e precárias, desempregados, novas “gerações perdidas”, não por uma guerra militar, mas por uma guerra económica chamada austeridade, em que os ricos esmagam quem tem de trabalhar para viver. Está na mão do “precariado” crescente escolher que viragem vamos ter em 2015 e participar decisivamente no rumo que vai ser tomado. Nos atos eleitorais como nas ruas.

Artigo publicado em p3.publico.pt a 29 de dezembro de 2014

Sobre o/a autor(a)

Investigador em Alterações Climáticas. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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