2014: Um ano mais pobres

porEsther Vivas

07 de janeiro 2014 - 0:03
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Entrámos em 2014 e estamos um pouco mais pobres.

Os nossos salários foram congelados, se é que temos emprego, ou inclusive diminuíram, poucos são os que esperam o início do ano novo com uma subida de salário. Isso já passou à história. As novas tradições impõem-se: o aumento da tarifa da luz, do transporte público, da água. E para que não se perca o “costume” às vezes o ritual inclusive repete-se durante o ano.

2013 acabou com o polémico leilão elétrico que ameaçava aumentar o recibo da luz em 11%, com um custo muito acima da média europeia e situando-se na terceira eletricidade mais cara da Europa. Finalmente, o Governo interveio e freou-o por decreto urgente. Como vemos, se o PP quer, o PP pode. Mas, em geral, não há muita vontade de ir contra os interesses das multinacionais de turno. Agora, no entanto, o Governo “dá-nos” uma subida de 2,3%, e ainda temos que agradecer.

O aumento do preço do transporte público é outra das fraudes tradicionais de ano novo. Aumenta-se o preço do comboio, quase em 2%, e em Barcelona, para não fazer por menos, também o do metro, nuns abusivos 5% para o passe mais utilizado. No entanto, falam muito do AVE [comboio de alta velocidade], coisa “tão frequente” entre a maioria dos cidadãos, não se preocupem porque o seu preço foi congelado. Afortunados são também os condutores das autoestradas de Castelldefels a Sitges e de Montgat a Mataró, onde a Generalitat da Catalunha reduziu a portagem em 30% e 10% respetivamente, desde que utilizem o sistema de pagamento automático. Assim funciona a CiU e o “Governo dos melhores”, baixando o custo do transporte privado, enquanto sobe o do transporte público.

E em Barcelona, continuamos a acumular subidas: a água, também, aumenta. A água subirá 8,5% em média na Área Metropolitana de Barcelona, graças aos votos da CiU e do PSC e a abstenção da ERC. No final, aqueles que tanto criticam os cortes são os primeiros a afiar as tesouras.

Entretanto, o salário mínimo continua congelado, como no ano anterior, nuns exíguos 645 euros mensais, a retribuição dos servidores públicos ainda está mais congelada, pelo quarto ano consecutivo o seu salário tem o mesmo montante de 2010. As pensões, dos dez milhões de aposentados que trabalharam toda a sua vida, já não são atualizados de acordo com o IPC mas muito abaixo do IPC e este ano só subirão 0,25%, o mínimo estabelecido pelo Governo. Um aumento que mal dá para um café.

Entramos em 2014, um pouco mais pobres. O nosso poder de compra cai paulatinamente. E passa um ano e outro, e cada vez temos menos. Querem que normalizemos a pobreza. Não se recordam das reportagens sobre os mileuristas? Esse novo precariado. Hoje ofereçam um trabalho de mil euros e choverão currículos. E ainda alguns, como o presidente do Governo, se atrevem a dizer que com este 2014 chega “o início da recuperação”. Cambada de ladrões e mentirosos.

Artigo publicado em publico.es em 2 de janeiro de 2014. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

Esther Vivas
Sobre o/a autor(a)

Esther Vivas

Ativista e investigadora em movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares. Licenciada em jornalismo e mestre em sociologia.
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