Está a ser investigado se foram causadas 11 mortes por alegada negligência do INEM, ou insuficiência de meios. O caso adensa-se com a confusão que é a gestão do serviço e do ministério. Em Julho foi nomeado um novo director, que ao fim de uma semana renunciou ao cargo; seria interessante saber o que o levou a decisão tão desprestigiante e perceber se o que o atemorizou demonstrava a insuficiência ou desadequação dos recursos do INEM. Foi então nomeado interinamente o actual director, que se mantém estoicamente no cargo e que não se deu conta do pré-aviso de greve, ou, pior, não soube como reagir (mas vai candidatar-se ao concurso aberto cinco meses depois da demissão do titular, assim o certifica o Governo). Que o caso é grave não há dúvida, pois tanto que assim é que a ministra desautorizou a sua secretária de Estado e retirou-lhe a tutela sobre a instituição.
Num número político decerto estudado, para isso foi contratado um consultor de comunicação que deve ter apresentado a ideia, a ministra anunciou a autoridade do seu número: “Vou dedicar 70% do meu tempo ao INEM.” A coisa é estranha, a bem dizer. Que o caso tem de ser resolvido nem há dúvida; que os outros assuntos deste ministério à deriva só ocupem os escassos 30% sobrantes demonstra que a ministra ou não faz ou não sabe fazer e em todo o caso não conhece. Temos portanto uma agravante do imbróglio mortífero, uma ministra que agrava o problema de cada vez que sobre ele se pronuncia, e que continua sem oferecer soluções.
Resta o número mais importante. Onze vale menos do que uma: quando houve uma morte em circunstâncias dificilmente comparáveis, a direita exigiu a demissão de Marta Temido e esta saiu. Agora que houve 11, resta concluir que é menos do que uma, logo se vê, é preciso estudar ponderadamente o assunto, o inquérito logo dirá alguma coisa, entretanto há jogo de futebol e que ganhe o melhor.
Este texto é parte da intervenção de Francisco Louçã no podcast “Um pouco mais de azul”, onde também participam o jornalista Fernando Alves e a poeta Rita Taborda Duarte. O podcast completo aqui