Arroz Amargo

porHugo Evangelista

17 de abril 2010 - 13:30
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O arroz LL62 é uma variedade de arroz patenteada pela Bayer CropScience, uma multinacional que se dedica à criação e introdução no mercado de culturas de OGMs com um volume de vendas de 5 mil milhões de euros anuais. Esta empresa pretende agora iniciar a comercialização e, quem sabe, a produção desta variedade de arroz na Europa.



Apesar da sua aparente boa vontade inicial, acenando com a suplementação vitamínica das populações carenciadas ou a redução da fome no 3ª mundo, a produção do arroz LL62 apresenta vários perigos reais aos quais não podemos ser indiferentes.



Esta variedade tem a particularidade de resistir a um herbicida, o glufosinato de amónio, que é extremamente perigoso para a saúde humana (com efeitos neurotóxicos e carcinogénicos) e para o ambiente, razão pela qual será proibido na União Europeia a partir de 2017. A questão é que recorrendo-se ao arroz LL62 usa-se necessariamente este herbicida nas culturas, sendo comprovado, inclusive pela Agência de Protecção Ambiental dos EUA, que existe acumulação de resíduos do herbicida no arroz LL62 que chega ao prato.



Existe ainda o risco de contaminação de variedades agrícolas tradicionais. Ainda no mês passado a Bayer voltou a ser condenada a pagar uma indemnização a três agricultores cujas culturas foram contaminadas pelo arroz da Bayer. E ainda existem mais 500 casos semelhantes em tribunal por julgar.



Mas, passados menos de 2 meses desde a autorização da Comissão Europeia para o cultivo da batata geneticamente modificada Amflora, propriedade da multinacional BASF, importa discutir a lógica dos OGMs que está agora a ser imposta na nossa agricultura e economia.



Dada a incontornável necessidade de produzir e consumir alimentos para a nossa sobrevivência, quem é que controla quem se estivermos dependentes de culturas agrícolas patenteadas por empresas movidas, antes de qualquer outra coisa, pelo lucro?



Até que ponto podemos garantir a capacidade de produzir alimentos no nosso país se estamos numa situação de dependência de uma patente privada?



Em que mãos ficamos se perdermos a capacidade de produção de sementes para o ano seguinte?



De que forma se garante a subsistência dos milhares de agricultores que optam por variedades tradicionais menos competitivas?



Quem assume o risco, por exemplo, do aparecimento de uma praga super-resistente?



Por tudo isto o Bloco de Esquerda é contra a entrada do arroz LL62 na União Europeia, rejeitando os interesses económicos da Bayer e as prioridades do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso,



O Ministro da Agricultura, António Serrano, deve ter um papel fundamental nesta oposição no espaço europeu, influenciando a decisão europeia, mas também impedindo a comercialização e o cultivo desta variedade em território nacional.

Hugo Evangelista
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Hugo Evangelista

Biólogo.
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