Francisco Louçã

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

A globalização criou uma das mais impressionantes viragens na distribuição do rendimento. E a discussão sobre as alterações climáticas também é uma história sobre desigualdade.

O “Jogo da Lula” tem uma força universal por ser a representação mais cruenta do reverso do sucesso do capitalismo: a série retrata o inferno e fá-lo sem disfarces nem condescendência.

A identidade da maior parte da população está agora ancorada no seu reconhecimento por via das plataformas das poucas empresas que constituem a oligarquia desta infraestrutura em rede.

Pode Costa pensar que terá ganhos de curto prazo com uma trovoada eleitoral recusando soluções na saúde ou na justiça social, ou no emprego e salários. Só que o que tem que ser tem muita força.

Arnaut e Semedo tinham proposto “o tempo completo e a dedicação exclusiva como regime de trabalho dos profissionais do SNS”, mas o PS só aceitou “a dedicação plena como regime de trabalho dos profissionais de saúde”. Nada de exclusividade. A diferença de palavras até escondia o que viria depois.

Prossegue a cruzada contra o salário mínimo e, se houve no passado uma juventude partidária que propôs aboli-lo, há agora um partido que defende que só haja salário mínimo concelhio.

Em nome do défice, o investimento deve reduzir-se, os salários devem ser condenados a perder poder de compra e o SNS deve continuar preso na impossibilidade de contratar médicos. Já vimos isto: chamou-se troika e prometeu que, se empobrecêssemos, seríamos mais felizes.

Várias promessas de apoios sociais feitas pelo Governo em 2020 não foram concretizadas, ou foram atrasadas, ou foram mergulhadas em teias burocráticas intransponíveis.

Diz-se que é difícil conseguir a deslocação de outras profissões para fora da capital, e aqui temos o paradoxal caso contrário: não se conseguem atrair médicos para virem trabalhar para Lisboa.

Um dos mistérios da campanha eleitoral foi a bravata de António Costa contra a Galp, prometendo-lhe uma “lição exemplar” pelo despedimento coletivo que está em curso. Ora, não se descortina nenhuma razão eleitoral local para tanto entusiasmo comicieiro.