Dia das Alianças encerra Fórum Social Mundial

02 de fevereiro 2009 - 0:00
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O Fórum Social Mundial terminou neste domingo em Belém do Pará com o Dia das Alianças, um conjunto de reuniões alargadas à procura de convergência para acções comuns. O Fórum reivindica a urgência de se encontrarem alternativas ao capitalismo, porque um outro mundo é possível e necessário.



Texto de João Romão, em Belém do Pará para o Esquerda.net.



Durante a manhã realizaram-se assembleias sectoriais temáticas, com divulgação de algumas conclusões dos debates, e na parte da tarde realizou-se a Assembleia das Assembleias, com apresentação de algumas campanhas globais a lançar em 2009.



O Fórum terminou com a mesma alegria festiva com que tinha começado, apesar do evidente cansaço dos participantes: foram muitos os quilómetros percorridos nos recintos da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazónia (UFRA), à procura de salas mal sinalizadas e de debates cuja programação era sucessivamente alterada, quer nos horários, quer nos locais, sob um intenso e húmido calor tropical.



Para se chegar às duas universidades que acolheram o Fórum foi construída uma estrada, permanentemente congestionada, que atravessa o bairro da Terra Firme, um dos mais pobres e perigosos de Belém do Pará, esta semana permanentemente vigiado por forças policiais e militares fortemente armadas. Para evitar este congestionamento, os participantes tinham à disposição pequenas e precárias embarcações que faziam a ligação entre os dois recintos num percurso de 15 minutos pelo Rio Guamá.



Apesar das dificuldades de mobilidade e de alojamento na cidade, a generalidade dos participantes mostra-se satisfeita com o Fórum, pela qualidade dos debates, pela oportunidade do estabelecimento de contactos, pela criação de redes para acções colectivas: o Fórum é um espaço de aprendizagem e acção que parece ter cumprido os seus objectivos e onde se reivindica uma urgência: a de encontrar rapidamente modelos alternativos de sociedade, que defendam as pessoas e respeitem os ecossistemas. A crise global foi aqui entendida como uma oportunidade: se não for a esquerda a apresentar rapidamente soluções mobilizadoras, outros o farão.



A economia solidária foi um dos temas mais presentes nas discussões sobre as alternativas para uma sociedade melhor: o cooperativismo, o associativismo e a auto-gestão devem ser ferramentas para disputar o controle dos meios de produção e combater a hegemonia do capital. No documento distribuído após a Assembleia dedicada a este tema no último dia do Fórum, foi apresentada uma Campanha Internacional pelas Compras Éticas e o objectivo de criar uma articulação de organizações ligadas às tecnologias de comunicação que valorize os intercâmbios solidários e ajude a promover a criação de laços cada vez mais fortes entre economia, sustentabilidade e finanças.



Numa altura em que a Europa, com Sarkozy e Berlusconi, dá sinais de querer erguer uma fortaleza contra a imigração, o Fórum também discutiu formas de cooperação e solidariedade Norte - Sul, porque a crise agravará o desemprego e a pressão populista da extrema direita sobre os imigrantes. Em ano de eleições europeias, algumas associações, incluindo a Solidariedade Imigrante, lançaram uma proposta de jornada de acção, a realizar em Maio, na Europa, contra o Pacto de Imigração e a Directiva de Retorno e pela regularização de indocumentados. O tema da imigração também tinha sido abordado no encontro de delegações do Fórum São Paulo e do Partido da Esquerda Europeia, tendo o SOS-Racismo, informalmente presente na reunião, estabelecido contactos para o desenvolvimento de acções comuns com organizações da América Latina.



Na assembleia onde se discutiu a relação entre crise, globalização e trabalho reivindicou-se um novo paradigma de sociedade, que não se limite a exigir mais regulação mas que discuta também os objectivos desses processos regulatórios: um novo paradigma de sociedade, com uma nova relação com a natureza, valorização do valor de uso em relação ao valor de troca, democracia e multiculturalidade enquanto ética do bem-comum: um novo conceito de desenvolvimento, que exige uma resposta cidadã global e uma nova relação de forças na política e na sociedade. Como afirmou Walden Bello, da «Focus on Global South», «é necessária a radicalização da imaginação por um mundo melhor».

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