A crise internacional foi um dos principais temas em discussão no Fórum Social Mundial. No último dia de debates, coube-me apresentar uma comunicação sobre o tema, com o economista venezuelano Eduardo Lander, num seminário promovido pela Transform. A procura de alternativas ao capitalismo marcou este Fórum, onde também esteve Olivier Besancenot. O Partido da Esquerda Euopeia reuniu com o Fórum Porto Alegre, procurando caminhos conjuntos.
Texto de João Romão, em Belém do Pará para o Esquerda.net
Os cartões de identificação utilizados pelos participantes no Fórum permitiram-me identificar pelo menos quinze nacionalidades diferentes entre os participantes no debate sobre a análise da crise internacional e as perspectivas de solução, promovido pela Transform: 60 pessoas, na sua maioria jovens (da Coreia do Sul, Vietname, Índia, Nepal, Estados Unidos, Brasil, Venezuela, Finlândia, Grécia, França, Alemanha, Suiça, República Checa, Itália), encheram uma pequena sala e quase metade teve que se sentar no chão.
Edgard Lander abriu o debate referindo que a época que vivemos é a do fim do neo-liberalismo, que resultou de uma hegemonia política e militar dos Estados Unidos e conduziu a uma exploração de recursos que levou o planeta até muito perto dos seus limites. Neste sentido, o colapso do capitalismo pode ser também o colapso da vida, o que exige um novo controle do conhecimento sobre a utilização dos recursos: soluções económicas e tecnológicas que mantenham os actuais paradigmas e conceitos de desenvolvimento e consumo só servirão para agravar a crise. Importa contruir uma nova sociedade, que deixe de analisar as questões económicas sem pensar nas consequências sociais e culturais.
Na minha intervenção, apresentei a situação actual como uma crise de sobre-produção do sistema capitalista, caracterizada por uma tendência para a descida do peso dos salários no rendimento global, que conduziria a uma expansão do crédito ao consumo e ao sobre-endividamento das famílias. Esse processo foi acompanhado pela liberalização dos mercados financeiros internacionais e pela privatização dos fundos de pensões, alimentando um processo especulativo que conduziu à actual crise. Por outro lado, a liberdade de circulação de capitais facilitou a deslocação dos investimentos produtivos para os locais onde a protecção social e laboral é mais débil, criando condições para uma precariezação global do trabalho.
Os contributos de Lander e as sugestões para alguns caminhos alternativos que adiantei (investimento público, políticas de pleno emprego e habitação, desmercantilização de serviços públicos e desenvolvimento de redes de economia solidária e cooperativismo) suscitaram um interessante debate, com contributos muito distintos, resultado natural da diversidade de situações nacionais vividas pelos assistentes.
A crise internacional e a luta anti-capitalista tinham também sido o mote para a intervenção de Olivier Besancenot, dois dias antes, na Tenda Irmã Dorothy, uma activista da defesa dos povos amazónicos que seria assassinada. O líder do Novo Partido Anti-Capitalista francês explicou que pretende reunir forças políticas diversas para encontrar alternativas ao neo-liberalismo e Heloísa Helena, do PSOL, que promoveu a iniciativa, lembrou que esta crise não é ocasional mas uma consequência inevitável do desenvolvimento capitalista.
Na noite de sábado, que antecedeu o encerramento do Fórum, ocorreu num hotel de Belém um encontro entre delegações do Partido da Esquerda Europeia e do Fórum S. Paulo, que reune formações políticas de esquerda do continente americano. Foi aqui salientada a urgência de se encontrarem caminhos comuns de combate à crise e definidos alguns temas prioritários de trabalho conjunto, que deverão passar pela discussão de novos modelos de desenvolvimento, pelo apoio à causa da Palestina e pela questão da emigração, que tenderá a ganhar peso político com o aprofundamento da crise, abrindo caminho ao populismo de direita.
A crise no Fórum Social Mundial
01 de fevereiro 2009 - 0:00
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