Os cem mil participantes no Fórum atravessaram a cidade de Belém, bloquearam o trânsito, trouxeram para as janelas a população local e mobilizaram um enorme aparato policial, intimidativo mas que se limitou a observar um extraordinário desfile com todas as reivindicações sociais do planeta, todos os sons da militância solidária, toda a alegria do desejo de transformação.
Por João Romão, de Belém do Pará, Brasil, para o Esquerda.net
As docas de Belém do Para são o centro da vida social da cidade: são os cargueiros que trazem e levam contentores de mercadorias, os barcos para passeios turísticos na baía, os bares e restaurantes modernos e sofisticados como em quaisquer reconvertidas docas europeias, lado a lado com os precários bares populares de apoio aos mercados, o municipal e o de "Ver o Peso", onde se encontram as iguarias amazónicas que condimentam a gastronomia local, as frutas, o peixe seco, os camarões e as moscas, que andam por todo o lado.
A Marcha que assinalou a abertura do Forum Social Mundial partiu da zona das docas, o ponto de encontro dos cem mil visitantes que se instalaram numa cidade onde muitas vezes manda a natureza: o começo da Marcha estava previsto para as 15h30, exactamente na hora da chuva, brutal e tropical, regular no seu horário. Afinal, a Marcha só começaria uma hora depois, terminada a chuva.
Os cem mil participantes no Fórum atravessaram a cidade, bloquearam o transito, trouxeram para as janelas a população local e mobilizaram um enorme aparato policial, intimidativo mas que se limitou a observar um extraordinário desfile com todas as reivindicações sociais do planeta, todos os sons da militância solidária, toda a alegria do desejo de transformação.
Mais de mil e duzentos índios vindos dos nove países que integram a bacia amazónica emprestaram à festa a sua marca distintiva e exigiram o respeito pelos seus direitos: à saúde, à educação, ao ecossistema, à cultura milenar que aprende com o presente e também quer disputar o futuro.
Todas as agendas se cruzam neste Fórum: o combate contra o trabalho escravo nos países pobres ou contra a precariedade no mundo desenvolvido, a defesa da educação e dos serviços públicos de saúde, os movimentos sindicais, a luta pela emancipação feminina, o direito ao aborto, o combate ao trafico de pessoas, a defesa de culturas indígenas e saberes tradicionais, a afirmação de uma economia solidaria que se afirme como alternativa ao capitalismo, o combate à exploração infantil: a defesa da dignidade humana em todas as suas dimensões marcam o dia-a-dia deste Fórum, onde se cruzam as ambições transformadoras dos movimentos sociais do planeta.
Quando acabou a Marcha, numa gigantesca concentração na Praça do Operário, a cidade estava congestionada. Os visitantes foram regressando às docas. Em varias praças do centro foram instalados palcos para as iniciativas culturais que animarão Belém esta semana. A festa do Fórum também começou.
Cem mil na marcha de abertura do Fórum Social Mundial
28 de janeiro 2009 - 0:00
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