No fim da edição do FSM na Amazónia, Boaventura Sousa Santos diz que foram os Fóruns Sociais que "anteciparam a crise" que hoje vivemos e não o Fórum de Davos que reúne a elite financeira. O fundador do FSM quer ver o mundo a discutir as ideias e soluções propostas em Belém do Pará e diz que é urgente "reinventar o Estado", orientando-o no rumo da democracia participativa.
“Se o Estado vai ter um controlo maior sobre a democracia tem de haver uma democracia económica”, defendeu o sociólogo da Universidade de Coimbra que faz parte do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial desde a sua primeira edição. Boaventura lembra que "o FSM foi uma resposta ao Fórum Económico Mundial não só para produzir um diagnóstico alternativo porque nos antecipamos às nossas crises que hoje temos no mundo, mas também para propor uma terapêutica alternativa”. E para mostrar a qual dos dois encontros o tempo veio dar razão, lembra que o Fórum de Davos, “ao contrário do que defendeu antes, hoje defende que o papel do Estado é muito importante”. “Mas para nós tem de ser um Estado totalmente reinventado", defende Boaventura.
A prioridade deve ser dada às energias renováveis e à agricultura familiar, “a única agricultura que mata a fome", por oposição ao agronegócio e a monocultura que no seu entender “não resolvem o problema, pelo contrário, produzem fome”, aumentando a desertificação e o êxodo para as grandes cidades que se estão a tornar “invivíveis, inabitáveis”.
Deste ponto de vista, a questão indígena tem para Boaventura, uma importância singular. “É preciso uma outra visão da natureza como recurso humano e não como recurso natural”, diz o sociólogo, opondo-a à visão da alta finança reunida em Davos. "A questão indígena e ambiental vão ser fundamentais como questões globais para um novo modelo, e é isso que o Fórum Económico se recusa a ver. Ele continua a pensar que os indígenas são atraso, obstáculos ao desenvolvimento”.
Boaventura diz que a solução deve centrar-se na forma de “viver bem dos quéchuas e não na China. Se os chineses consumissem no mesmo padrão que os europeus e que a América do Norte, precisaremos de três planetas para garantir a sustentabilidade de um único”.
Ainda acerca do debate do papel do Estado, Boaventura Sousa Santos criticou a orientação do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil, o segundo maior banco de investimentos do mundo, ao destacar que funciona numa lógica direcionada ao agronegócio e ao neoliberalismo.
Boaventura diz que a realidade prova que "o FSM tinha razão"
01 de fevereiro 2009 - 0:00
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