Vicente Ferreira

Vicente Ferreira

Economista

É um erro olhar para a descida de impostos como a resposta para os problemas de fundo da economia portuguesa. O que sabemos é que as principais beneficiadas desta medida serão as empresas que menos precisam.

O outro lado da moeda das reduções de impostos são a quebra da receita com que se financiam os serviços públicos disponíveis para todos. Só as alterações ao IRS Jovem têm um impacto estimado de mais de €500 milhões para o Estado.

O tipo de inflação que tivemos nos últimos anos tende a penalizar mais quem ganha menos. Ao aumentar as taxas de juro, os bancos centrais operaram uma transferência de rendimento das famílias e do setor produtivo para o setor financeiro.

Boa parte dos problemas no acolhimento da população imigrante é consequência da forma perversa como a economia a tem integrado. Mais do que saber do que precisa a economia que temos, devemos preocupar-nos em saber de que economia é que precisamos.

O anúncio de tarifas comerciais generalizadas por parte dos EUA provocou ondas de choque no resto do mundo. O que é que podemos esperar?

Com necessidades de investimentos evidentes para reforçar os serviços públicos e promover a transição energética, uma nova vaga de cortes no investimento público e no Estado Social em nome do rearmamento só vai acentuar os problemas.

É cada vez mais difícil justificar adiar o investimento em medidas de adaptação às alterações climáticas. É necessária uma discussão mais abrangente sobre a transformação estrutural dos sistemas de produção e distribuição de bens essenciais, sem ceder a teses catastrofistas.

Na imprensa económica, Javier Milei tem merecido elogios pela contenção da taxa de inflação. Porém, a economia contraiu mais do que se esperava e a Argentina entrou em recessão técnica, com o desemprego a aumentar. É difícil ignorar os custos sociais da política económica de Milei.

Tudo isto obriga a repensar o combate à inflação – e, de uma forma mais geral, a política económica. Há lições a retirar sobre a política macroeconómica da Zona Euro, responsável pela estagnação pré-pandémica, e sobre a resposta a choques inflacionistas como o dos últimos anos.

Além de repensar o combate à inflação, os problemas que as economias enfrentam atualmente sugerem que se deve reavaliar a política económica de uma forma mais abrangente.