Vicente Ferreira

Vicente Ferreira

Economista

Na imprensa económica, Javier Milei tem merecido elogios pela contenção da taxa de inflação. Porém, a economia contraiu mais do que se esperava e a Argentina entrou em recessão técnica, com o desemprego a aumentar. É difícil ignorar os custos sociais da política económica de Milei.

Tudo isto obriga a repensar o combate à inflação – e, de uma forma mais geral, a política económica. Há lições a retirar sobre a política macroeconómica da Zona Euro, responsável pela estagnação pré-pandémica, e sobre a resposta a choques inflacionistas como o dos últimos anos.

Além de repensar o combate à inflação, os problemas que as economias enfrentam atualmente sugerem que se deve reavaliar a política económica de uma forma mais abrangente.

Os últimos anos tornaram mais claro o enorme poder das maiores empresas para definir aumentos de preços e proteger (ou aumentar) as suas margens de lucro em contextos em que a maioria das pessoas atravessa dificuldades.

O Índice de Preços no Consumidor é um indicador importante e não deve ser desvalorizado. Mas é preciso ter em conta que não capta tudo e que há questões às quais não permite responder. Usar o IPC para avaliar a evolução dos “salários reais” pode não ser o mais adequado.

A política monetária, tal como a política orçamental, é política: depende de premissas discutíveis sobre as origens, os custos e os benefícios da inflação. Esta questão não se vai tornar menos relevante nos próximos anos.

A estratégia liberal de Milei para conter a inflação tem consistido em promover o colapso da economia e aumentar os níveis de pobreza e desigualdade. Descrever esta experiência como um sucesso é revelador das prioridades de quem o faz.

Se a consolidação orçamental for aplicada em vários países ao mesmo tempo, o impacto negativo no crescimento de uns afeta as trocas comerciais e o crescimento de outros (incluindo Portugal). E isso dificulta, em vez de promover, a redução sustentada da dívida.

Adiar os investimentos necessários é uma escolha que tem saído cara. O desinvestimento traduz-se não apenas na perda de qualidade dos serviços públicos, mas também na ausência de uma estratégia de desenvolvimento económico e territorial que não responda apenas aos incentivos do mercado.

Os primeiros dados sobre a distribuição dos votos entre Democratas e Republicanos sugerem que houve uma viragem assinalável para os segundos entre os eleitores com menos rendimentos. Como evoluíram as condições de vida dessas eleitoras e desses eleitores em 2021 – 2023.