Mário André Macedo

Enfermeiro especialista em saúde infantil e mestre em saúde pública.

Pelo menos dez países já avançaram com a autorização da prescrição de medicação por enfermeiros, enquanto outros expandiram o papel dos enfermeiros nos vários níveis de cuidados.

O que hoje acontece, com grávidas num estado de total insegurança quanto à possibilidade de acesso aos cuidados, não pode continuar em Portugal, na terceira década do século XXI. São milhares de vigilâncias de saúde materna que se tornaram precárias, e demasiados partos feitos sem condições.

A saída dos EUA da OMS significa que, pela primeira vez em 80 anos, o país estará de fora da maior organização de saúde. A cooperação ficará cada vez mais restrita aos blocos diplomáticos, em vez de uma procura solidária de melhorar o acesso e a equidade em saúde para todos.

Portugal não tem trabalhado suficientemente para alterar os fatores de risco modificáveis, nem coloca a equidade como uma das prioridades das políticas de saúde.

Em 2023, o número de estrangeiros não residentes atendido nas urgências do SNS correspondeu a apenas 0,7% do total de episódios. É deveras triste que o Governo prossiga a sua governação baseada em perceções. 

A saúde precisa de ciência, não precisa de ser gerida com base em teorias da conspiração mais ou menos recentes propaladas pelas redes sociais. É um perigo enorme não apenas para os americanos, mas para todo o planeta, dar a responsabilidade da saúde a alguém como Robert F. Kennedy Jr.

O investimento anunciado no SNS é de 852 milhões de euros. Fica desde já uma previsão, que terei todo o gosto de revisitar daqui por um ano: 2025 não será diferente. Este será mais um ano perdido de investimento na saúde.

Poderiam ser evitados, a nível mundial, 25% das mortes de mulheres na área da saúde materna, com melhor acesso a métodos de contraceção e aos cuidados de saúde relacionados com a IVG. Está na hora de se ser realmente pró-vida e salvar estas mulheres.

A OMS declarou que o novo surto de Mpox representa uma emergência internacional de saúde pública. O esforço para controlar este surto é de todos. A história tem mostrado as duras consequências da inação, da desigualdade no acesso a vacinas e testes, ou da caridade performativa.

Não é plausível que as unidades de saúde familiares modelo C consigam atrair novos profissionais de fora do SNS. Pelo contrário, há o risco, assumido publicamente, de desvio de recursos humanos do próprio serviço público.