Está aqui

Vem aí o Costa

Depois de uma fase em que militantes e simpatizantes viram-se obrigados a escolher um lado e a vilanizar o outro, com naturais consequências negativas na opinião pública, o ambiente no PS começa a clarificar-se.

Seguro já tentou todos os papeis: coitado, virgem ofendida, marido enganado mas sereno, marido enganado mas furioso, e nada tem resultado. O desfecho que desde o início se adivinhava, e que apenas por momentos se duvidou, está traçado. Costa vencerá por uma margem bastante confortável as primárias do próximo mês e começará imediatamente a preparar o partido para as legislativas.

Depois das trocas de galhardetes pouco bonitas a que o país assistiu nos últimos meses, poder-se-á pensar que o PS sairá deste processo bastante enfraquecido. Tenho sérias dúvidas que assim aconteça. Mal começa a sentir a proximidade do poder, os grandes partidos do centro político possuem uma capacidade ímpar de camuflar as divergências e inimizades. Rapidamente, tudo parece não ter passado de um sonho mau. Amanhã já conseguirão estar todos de braços dados e com as fileiras cerradas a combater "os outros", a combater qualquer ameaça externa ao êxito do seu partido. Há que lhes gabar o pragmatismo.

Por outro lado, também poder-se-ia pensar que este PS pós-primárias terá poucas hipóteses perante uma direita unida , que tem conseguido vender bem a narrativa de que "o pior já passou", que os "sacrifícios afinal serviram para alguma coisa". É verdade que PSD e CDS têm hoje boas razões para achar que podem vencer as legislativas de 2015, algo que há um ano atrás era difícil imaginar. No entanto, desengane-se quem acha que o PS parte bastante atrás para esta corrida. Como tem sido fácil constatar, a memória do eleitorado é curta. Os episódios tristes que o PS tem oferecido ao país serão rapidamente esquecidos com a ajuda de slogans de "mudança", de "novo rumo".

Por último, importa sublinhar que António Costa não é um político qualquer. Fez toda a escola necessária com brilhantismo, é extrema e assustadoramente hábil, sabendo muito bem quais os trunfos necessários para a grande jogada que se aproxima. Costa beneficia também de uma grande exposição mediática, de uma imprensa que o leva ao colo e é com certeza o pior oponente que Passos e Portas poderiam ter pela frente.

Perante este cenário futuro quase certo, a Esquerda (à esquerda do PS) tem naturalmente razões para pensar seriamente como se quer posicionar, sendo certo que as soluções ortodoxas que consideram que esta é uma batalha tão grande e tão difícil como muitas outras, poderão sair caras. Vão ser com certeza necessárias novas abordagens, novas soluções, novas propostas, novas formas de comunicar e de envolver o eleitorado. Os próximos meses serão decisivos para definir a nova legislatura.

Sobre o/a autor(a)

Politólogo, autor do blogue Ativismo de Sofá
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