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Vamos votar!

Os portugueses têm que encontrar alternativa política àquela que foi a governação do país durante os últimos quarenta anos.

É quase hora da festa da democracia. O ato eleitoral supremo é obrigatório para uma eleição esclarecedora e representativa dos deputados para o Parlamento e, indiretamente, do governo. A escolha dos nossos criados e mordomos assume-se como um dever, pois aqueles irão servir-nos durante os próximos quatro anos, e, pelo menos, sabemos que na última quinzena de anos o seu serviço foi de baixa qualidade. O gosto democrático deve ser exigente, começando por apreciar partidos avessos à corrupção, que prefiram salvar a economia e não salvar cegamente as instituições financeiras, que distribuam a riqueza por todos ao invés de criar mais desigualdade social. Portugal é das sociedades mais desequilibradas da OCDE, contudo, os dois partidos que têm apoiado os governos só vagamente abordam este profundo problema.

Os portugueses têm que encontrar alternativa política àquela que foi a governação do país durante os últimos quarenta anos. A importância histórica desses dois partidos na construção da democracia e do Estado Social é inegável, mas o seu tempo esgotou-se e passaram a ser parte do problema e não das soluções, existem apenas para se alimentarem. O descarrego de consciência preguiçosa que vocifera que “eles são todos iguais!”, não tem qualquer validade, porque essencialmente foram dois os partidos que assumiram a chefia do Estado desde o alvor desta democracia. Agora, nesta época de incertezas europeias é mais do que certo que a direita reforça o privilégio das elites (notório na subida estatística da desigualdade) e constrói muros contra as minorias em todo o lado, tendo o fraco contrapeso da esquerda centrista, que hesita na escolha de um Estado mais distributivo e justo, de tão encantada que está pelo liberalismo.

Felizmente, os portugueses, velhos, novos, empregados desempregados, estudantes e analfabetos são exatamente todos iguais no dia do voto. A direita tem esperança que poucos votem, porque normalmente os descontentes não votam e se votassem não seria num governo que os espezinha. A esquerda do centrão tem os seus próprios interesses e também não pode fazer muitas ondas contra o sistema, porque se alimenta dele. Sobra a esquerda moderna e arrojada, que não substitui o mercantilismo capitalista pela ortodoxia do materialismo científico, que traz a proposta de uma democracia avançada e um ética política mais apertada, que aposta na defesa das minorias e na igualdade de todos. Uma esquerda que sabe que os países se constroem com desenvolvimento e não necessariamente com crescimento. Desenvolver é quando a vida de cada um de nós fica um bocadinho melhor; crescer é um saldo estatístico em que alguns podem ficar com muito e os restantes com muito pouco. É diferente. Uma esquerda sem medo do género, da sexualidade, da escola, do ambiente, dos referendos.

Os portugueses têm esperança de ver este país melhor, sem medo da mudança, com o desejo de estar entre as nações desenvolvidas do mundo, por isso votarão e escolherão… diferente do costume. O país precisa de um contrato social que seja respeitado e dê a primazia ao cidadão e aos seus direitos constitucionais, nas vertentes económica, social, ambiental e cultural. A razão é simples: o povo é o verdadeiro e único soberano (diz a Constituição). Um povo apático está nas mãos dos seus ministros (serviçais); um povo que se expressa e vigia resolutamente cumpre-se pela cidadania e pela coragem e ousadia dos gestos simples, que podem significar passos de gigante na direção de um futuro sem esta ganga dos últimos vinte anos.

Sobre o/a autor(a)

Professor de História. Membro da Assembleia Municipal de Lagoa eleito pelo Bloco de Esquerda
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