Uma espécie de apoio

porJoão Teixeira Lopes

21 de abril 2010 - 1:06
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Alguns jornais dizem que o PS já tomou uma posição sobre a candidatura de Manuel Alegre. Mas Vitalino Canas, José Lello, António Vitorino, Capoulas, Correia de Campos, Vital Moreira, Renato Sampaio e tantos outros fazem questão de salientar a sua profunda distância face a Manuel Alegre. Muitos invocam a peculiaridade de Alegre ser "o candidato do Bloco de Esquerda", como se isso significasse a lepra. António Costa, na quadratura do círculo, criticava o candidato por se ter apresentado "cedo demais" e porque ninguém no secretariado do PS tem qualquer ilusão sobre a "actual direcção do Bloco de Esquerda". É caso para dizer: obrigado, António Costa! Mais vale um reconhecimento tardio do que um esquecimento perpétuo... Pela parte do Bloco, identificadas as convergências com a candidatura de Manuel Alegre, mais relevantes, ainda, nos dias que correm, repudiamos esta forma torpe de fazer política. Um apoio é sempre leal e franco, de parte a parte.



Na política, as decisões não vão por amizades ou estados de espírito. A aversão de grande parte da direcção socialista a Manuel Alegre reside apenas em dois aspectos essenciais: em primeiro lugar, o poeta não negociou nem o timing, nem o processo ou programa da sua candidatura; em segundo lugar ousou ultrapassar a linha que transforma aos olhos da clique socrática qualquer ser humano em pessoa suspeita, ao rejeitar a deriva direitista e ultraliberal do Governo. Alegre é um social-democrata, Sócrates um rendido ao poder quase absoluto dos mercados.



Daí a actual estratégica: diz-se que se apoia, mas em simultâneo transmite-se a ideia de um partido dilacerado, em que os supostos moderados atacam Alegre e/ou apoiam Nobre. O apoio formal do PS a Alegre, se e quando surgir, virá mutilado e envenenado.



Pela parte do Bloco, identificadas as convergências com a candidatura de Manuel Alegre, mais relevantes, ainda, nos dias que correm, repudiamos esta forma torpe de fazer política. Um apoio é sempre leal e franco, de parte a parte.

João Teixeira Lopes
Sobre o/a autor(a)

João Teixeira Lopes

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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