Segundo dados de 2008 apresentados pelo sociólogo Branko Milanovic, no seu último livro The Haves and the Have-Nots, divulgados pelo Observatório das Desigualdades, os 1% mais ricos em Portugal integram o grupo dos 1% mais ricos a nível mundial, tal como os 1% mais ricos dos Estados Unidos e do Brasil. Isto significa que, no seu conjunto, o rendimento dos 1% em Portugal está ao nível do rendimento dos 1% mais ricos nos Estados Unidos e no Brasil. Ora, como é sabido, estes países apresentam duas das mais vincadas estruturas de desigualdade a nível mundial e uma enorme concentração de riqueza na sua burguesia.
Estes números correspondem à situação social do eclodir da crise. E provam claramente que existia margem mais que suficiente para o então Governo PS ter lançado um imposto sobre as grandes fortunas em vez de se ter decidido a aumentar ainda mais o fosso entre pobres e ricos através dos cortes de salários e das prestações sociais. Com a transferência massiva de rendimentos do trabalho para o capital essa distância só pode ter aumentado.
Mesmo na Alemanha, o rendimento dos mais pobres tem estagnado, ao contrário de um nítido aumento dos ganhos dos abastados (Inequality Watch)
Por outro lado, o mais recente (2011) relatório How’s Life, o novo indicador compósito interativo de bem-estar (Better Life Index) , mostra que indicadores de educação, envolvimento cívico, comunidade, satisfação com a vida, rendimento e emprego obtêm no nosso país uma fraquíssima posição relativa. Aliás, num indicador subjetivo como o da “satisfação geral com a vida”, os portugueses apresentam os mais baixos índices, só atrás da Hungria. O que significa desalento, sofrimento, infelicidade: a receita da troika para os nossos dias.
E a urgência de transformar esse desalento, sofrimento e infelicidade em fúria transformadora.