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Tradição e inovação: trajectos
Fico pessoalmente muito contente por sentir a inquietação no mundo universitário. Saí da minha Faculdade quando entrou em vigor Bolonha. Saí quando, depois de uma diligência de um grupo de docentes junto de Mariano Gago, se procurou encontrar uma moratória para a entrada em vigor de 'Bolonha'. Saí quando o portal da Universidade de Bolonha já tinha publicado cinco documentos de reflexão - cinco -, sobre o que corria mal com 'Bolonha'. Saí quando acabou a gestão democrática da escola. Tudo ultrapassado! É certo que Assembleias de Representantes e Conselhos directivos eleitos tinham entrado numa rotina de passividade. Mas... quando surgiam desvios, abusos, a 'gestão democrática' da escola serviam para clarificar os processos usados, denunciar os nepotismos. Tudo inútil. Um cocktail explosivo de tendências ideológicas 'viam' mais longe... A nova forma de eleger o Reitor, os Conselhos Directivos retomariam a figura de Director (escrevendo por baixo Dean para parecer mais british e europeu) baralharam o jogo dos departamentos, confundindo os campos do saber em nome de uma pseudo interdisciplinaridade; em nome de uma abertura à sociedade que só pontualmente se realizou, chamaram a sociedade civil para eleger o Reitor (e foi muito sintomática a jogatana de influências); e assim, se foi consolidando a mercearia do saber: fazes pouquinho no início; tens boas notas; queres mais? pagas; vais pagando. Do matagal universitário, por entre honrosas excepções, vão saltando os 'generosos mártires da casa', que aceitam sempre a 'gestão', essa disciplina quase sempre reduzida ao deve/haver e nunca à visão de um futuro. Basta-lhes iludirem-se com o 'slogan' de que está a 'sair a geração mais bem preparada'. Em nome de uma não sustentada busca da evolução universitária, ficam-se pelos rótulos; pechisbeque que é pasto desejado para quem não percebeu que o 'lungo studium' é mesmo coisa para levar a sério... Novos (mas tão velhos...) Senhores Directores; mandarinetes que menorizam funcionários, vendem bolinhos Passos das Escolas, marketing com lágrimas joaninas, D. João V nas boxes da MacLaren, e quem não alinhar neste carrossel de pequenas e medíocres vaidades, é velho, o mundo já não lhe pertence e tem em si qualquer coisa de mal resolvido: percebe que ser universitário será sempre um acto de modéstia em busca de respostas. Que a luta que vejo anunciada ganhe raízes e triunfe. Não por qualquer sentimento ou pessoal 'má digestão'; apenas para que 'tradição' e 'inovação' juntem os trapinhos, tenham uma 'relação' livre mas responsável, com a verdade que se pede à instituição e sem a 'cagança' que a mediocridade tanto gosta de exibir como emblema de uma (falsa) modernidade. Eu, por mim, juro que saí muito feliz; sem lutos. Que a luta continue... Força!
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