As últimas semanas têm sido marcadas por notícias sobre os tempos de espera e outras dificuldades de operação no hospital Fernando da Fonseca (HFF), que levaram ao desespero de milhares de utentes e, qual gota de água, motivaram a demissão de médicos, chefes de serviço e até do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Amadora e Sintra (ULSAS).
Os problemas no HFF não são novos nem de fácil solução. Com uma população de referência muito superior àquela para a qual foi dimensionado, o hospital serve uma região extensa e densamente povoada, que tem contextos epidemiológicos e sociais complexos e reconhecidas insuficiências ao nível dos equipamentos de saúde, fatores que, a par dos custos da habitação e remuneração subdimensionada para o trabalho em causa, dificultam a atração e retenção de profissionais de saúde em todos os níveis de cuidados.
Espanta por que isso que o Ministério da Saúde tenha vindo agora prometer à Ordem dos Médicos a elaboração de plano para responder à crise a que estamos a assistir. Espanta e preocupa, pois a promessa não só surge tarde como é feita numa altura em o HFF já deveria ter reforçado as suas equipas para fazer face a décadas de dificuldades como à anunciada inauguração do novo Hospital de Proximidade de Sintra (HPS).
A 23 de dezembro a Senhora Ministra da Saúde recebeu em mão a chave desta nova unidade que dispõe, entre outros, de uma urgência básica com meios complementares diagnóstico, quatro blocos para cirurgias ambulatória e de 60 camas para cuidados continuados que permitirão fazer uma gestão mais adequada dos internamentos. A unidade foi construída por iniciativa da autarquia, através do seu orçamento, e, apesar de pequena para a população que serve, contribuirá melhorar a resposta e para aliviar a pressão sobre o HFF.
Há muito que se sabe que a integração do HPS no Hospital de Amadora Sintra iria obrigar ao reforço de recursos humanos e reorganização de serviços. A falta de transparência sobre este processo e a carência de recursos humanos que, de forma crónica, afeta o normal funcionamento do HFF mostram que, contrariamente ao que sempre nos foi dito na Assembleia Municipal de Sintra, este planeamento não terá sido devidamente acautelado.
Desde 2021 que a tutela acompanhou a construção desta nova unidade e, em julho de 2024, o atual executivo já sabia que a entrega da empreitada não iria demorar. Se é verdade que para pôr um hospital a funcionar não basta abrir-lhe as portas, seria de esperar que, depois de um verão caótico no SNS e antecipando a disponibilidade deste novo equipamento, o Executivo tivesse redobrados os esforços para abreviar e antecipar, na medida do possível, a inauguração.
No entanto, a prioridade parece ter sido outra, uma vez que a proposta de Orçamento de Estado para 2025 inicialmente apresentada apontava para a integração na nova unidade no Hospital de Cascais, retirando-a da esfera da ULSAS. Ou seja, em vez de criar condições para antecipar a abertura do HPS, o governo andou a preparar entregar ao setor privado de um equipamento por estrear.
Embora tal intenção tenha sido posta de lado por pressão da opinião pública e de parte dos/das eleitos/as locais após denunciada pelo Bloco de Esquerda, chegamos a fevereiro de 2025 e, num quadro de grandes dificuldades no HFF, continuamos sem data para abertura do HPS. O mesmo governo que garantiu que iria pôr SNS a funcionar nos primeiros meses do seu mandato, longe de criar condições para reforçar a capacidade de resposta da ULSAS, continua a acenar com planos que pouco resolvem e só aumentam a perceção de que o SNS não tem solução. Assim não vamos lá.
