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A selfie que poderia ter tirado com Marcelo

Quando cumprimentei Marcelo Rebelo de Sousa perguntei-lhe se não quereria tirar uma selfie comigo ao pé de um aterro de lamas químicas depositadas pelos militares norte-americanos.

Se a reabilitação e descontaminação cabal e total dos aquíferos da ilha Terceira estiver dependente da vontade do poluidor (os norte-americanos), então teremos de esperar para que a água corra escura pelas torneiras e que os terceirenses comecem a perecer por beberem água inquinada.

Há que impor aos EUA a responsabilidade pela limpeza da «pegada ambiental» deixada pela atividade militar, ou acessória desta. Não é admissível deixar tudo no recato da diplomacia, o que por outras palavras significa manter uma postura subserviente expressa numa gestão de silêncios e omissões para cair nas boas graças dos EUA.

Marcelo Rebelo de Sousa nada acrescentou àquela que tem sido a política diplomática do Estado português na relação mantida com os EUA, no âmbito do famigerado Acordo de Cooperação e Defesa: o instrumento que tem permitido a manutenção de Portugal no clube da NATO, justificada pela alegada proteção que usufruímos contra o terrorismo e outras ameaças à nossa segurança.

A questão que se coloca é se estamos dispostos a trocar o ambiente e a saúde dos terceirenses por uma aliança militar? Uma aliança que, principalmente depois da guerra fria, tem sido útil essencialmente aos interesses norte-americanos. E que, agora, pretende obrigar os seus membros a reservar o correspondente a 2% do seu PIB para a manter, apesar de Trump até já ter colocado em causa o Art. 5.º do Tratado que garante a defesa intransigente de qualquer aliado, no caso de ataque.

Na passada sexta-feira, quando cumprimentei Marcelo Rebelou de Sousa perguntei-lhe se não quereria tirar uma selfie comigo ao pé de um aterro de lamas químicas depositadas pelos militares norte-americanos. Contava com uma resposta assertiva e comprometida para com o interesse da ilha Terceira, dos Açores e do país, como seria de esperar de um Presidente da República. No entanto, Marcelo Rebelou de Sousa limitou-se a reproduzir a condição dos norte-americanos de que qualquer descontaminação adicional só será feita se, e quando, estiver em risco a saúde pública. Vamos ficar à espera que tal aconteça? Se é que já não estamos a correr esse risco.

Enfim, fiquei sem direito a selfie, sem qualquer esclarecimento adicional e sem descanso. Restou o afeto, o que para muitos parece ser mais do que suficiente.

Sobre o/a autor(a)

Deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Membro do Bloco de Esquerda Açores. Licenciado em Psicologia Social e das Organizações
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