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Segurar danos próprios a uma viatura que vai ser usada num crash test?

O Vítor estava a conseguir um espantoso consenso no país. Contra o seu governo, claro! Mas que ia a caminho de um amplo consenso, não havia dúvidas!

O Paulo, um moço espertito, que esperava continuar pelos palácios durante o máximo tempo possível, volta e meia questionava as escolhas do Vítor. Talvez por se sentir desconfortável com o tal consenso desfavorável que o talento do Vítor produzia naturalmente. O Vítor não gostava da impertinência do Paulo, mas sabia que a última decisão era sempre um número desenhado por si.

Um dia Vítor percebeu que tinha chegado a hora de abalar. Saiu de dentro dos números em que estava mergulhado há dois anos e usou algumas palavras. Disse que a magia dos seus números não funcionava. Finalmente, também ele entendia as fundadas razões contra a sua arte. Disse que não podia já ser ele a desenhar os números mágicos. Reconhecendo, o que muitas pessoas diziam há muito tempo, que a sua varinha funcionava ao contrário. Não criava nada. Destruía tudo.

O Pedro, rapaz de que ainda não falamos mas que é o responsável pelos RH do sítio, rapidamente promoveu a mais fiel colaboradora do Vítor a preencher o lugar vago. Mas a mocita tinha todos os inconvenientes que o Vítor via em si próprio mais um. E um dos grossos. O Paulo não gostou e irrevogou-se todo, coitadinho!

Estava instalada a confusão. Em condições normais, Pedro irrevogava-se também. Mas, nem pensar! Pedro esticou-se todo, pôs ar de homenzinho e firme e hirto explicou-nos que não havia irrevogações para ninguém. Ele daria ao Paulo tudo o que o rapaz pedisse. Assim fez. Pedro prometeu este mundo e o outro ao Paulo. Mantendo a cabeça da mocinha no lugar, coisa que espantou até os mais distraídos.

Mas precisavam da bênção do padrinho...

O padrinho ouviu. O padrinho aconselhou-se. O padrinho pensou em si e na melhor forma de se colocar na fotografia de um novo casamento com divórcio marcado. Ao fim de uma semana extenuante de neurónios congestionados, exigiu um seguro para que tudo pudesse continuar mais ou menos como dantes com o mesmo acordo pré-nupcial.

O que o padrinho pediu é comparável a segurar danos próprios a uma viatura que vai ser usada num crash test. Nem imaginávamos que pudesse existir. O padrinho é homem de grande visão. E voltou a receber aplausos por esta brilhante ideia. Alguns também difíceis de imaginar. E a estória continua... Até quando?

Sobre o/a autor(a)

Designer. Membro da concelhia do Bloco de Esquerda de Caminha.
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